Lula fala aos trabalhadores. Foto: Arquivo |
Tantas tentativas frustradas de desqualificar a imagem do ex-Presidente, inconformada com a ascensão de Lula, a mídia acentua o status de desacreditada. A popularidade e aprovação de mais de 80% dos brasileiros pelo Lula cresce cada vez mais quando o PIG tenta algo novo. O povo não é bobo.
Por Márcia Brasil
Instituto Millenium, mídia e as lições da história
Por Emiliano José - Carta Capital
Cedo à tentação, e me comprazo em fazê-lo, de lembrar Gramsci, que, nos seus Cadernos do Cárcere, falou, não poucas vezes, e com muita propriedade, do papel dos intelectuais, dando-lhes um estatuto político até então imprecisamente avaliado. Evidente que não pretendo tratar especificamente disso, mas resvalar o tema para voltar ao assunto da velha mídia no Brasil. Gramsci indicava, lá nos anos 30 do século passado, como os grandes intelectuais individuais, ou grupo de intelectuais agrupados em revistas, jornais e demais meios de comunicação, exercem frequentemente a função de partidos políticos.
Ele se refere, por exemplo, ao “partido constituído por uma elite de homens da cultura, que tem a função de dirigir, do ponto de vista da cultura, da ideologia, um grande número de partidos afins”, ou quando afirma que “um jornal (ou um grupo de jornais), uma revista (ou um grupo de revistas) são também ‘partidos’ ou ‘frações de partidos’”. Retiro essa reflexão – incluídos os textos aspeados – do notável livro de Carlos Nelson Coutinho – “Gramsci : um estudo sobre seu pensamento político”, da editora Civilização Brasileira. Coutinho é seguramente o mais denso estudioso de Gramsci no Brasil, e contribuiu decisivamente para que o País o conhecesse e para que a política fosse positivamente contaminado pelo pensamento gramsciano.
O mundo é outro, inegavelmente. Mas a abordagem de Gramsci sobre os intelectuais continua atual sob muitos aspectos, especialmente no que diz respeito à natureza partidária dos nossos meios de comunicação, sobretudo daqueles meios que chamo de velha mídia, no Brasil os poucos grupos monopolistas que pretendem controlar o discurso sobre o País e que se arvoram à condição de partido político, pretendendo, ainda, personificar a opinião pública, mistificação que foi sendo desmontada com a autonomia da opinião pública das ruas, que felizmente não aceita mais passivamente o discurso midiático.
Veja e Cachoeira. A intervenção específica da revista Veja mereceria um capítulo à parte, embora não possamos aqui, no limite desse texto, elucidar o seu papel de raivosa usina teórica da extrema-direita na América Latina. No caso da quadrilha de Carlos Cachoeira, Veja foi muito além disso, e envolveu-se profundamente com o crime organizado, como o comprovam as tantas matérias publicadas, sobretudo na blogosfera e na revista CartaCapital. Veja, além de cometer crimes, de atentar contra quaisquer princípios éticos do bom jornalismo, insista-se, age como partido político, combatendo sem trégua o projeto político que o Partido dos Trabalhadores conduz no País desde 2003. Separo Veja dos demais meios, embora seja correto acentuar que a velha mídia tem um programa político comum quanto ao Brasil, e não varia no seu combate cotidiano ao projeto político iniciado com a vitória de Lula em 2002.
Quero mesmo, para definir o escopo central do texto, tratar do Instituto MIllenium. Embora soubéssemos da existência dele, a leitura da matéria de Débora Prado, na revista Caros Amigos, de agosto de 2012, é muito esclarecedora quanto à natureza nitidamente partidária assumida pela instituição, um conglomerado de intelectuais que se dispõe a pugnar contra o projeto político em andamento no Brasil, e a favor da proposta neoliberal, derrotada em 2002, apesar do esforço da mídia em sentido contrário. A organização é uma autêntica vanguarda da velha mídia, voltada essencialmente à defesa do direito de propriedade e da livre iniciativa. Uma entidade que defende privatizações, o sistema financeiro mesmo quando ele entra em colapso, faz campanha permanente contra a regulamentação das comunicações, propõe sem variação a redução dos direitos sociais e combate qualquer política afirmativa por parte do Estado, conforme o registro da excelente matéria.
E é uma entidade com um programa nitidamente neoliberal, organizada diretamente pelos barões da velha mídia, note-se. Não se trata de intelectuais dispersos, avulsos, mas aqueles afinados com esse discurso, e recrutados diretamente pelo quartel-general midiático que dirige a organização. O Instituto Millenium conta com o que Gramsci chamaria intelectuais orgânicos da direita. O gestor do Fundo Patrimonial é ninguém menos que Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso. Dispõe de uma extensa rede de articulistas que, além de escrever em seu site, tem espaço constante, assegurado nos principais veículos da velha mídia: Demétrio Magnoli, Carlos Alberto Sardenberg, Ali Kamel, Roberto Da Matta e Roberto Romano são alguns dos nomes lembrados.
Ideólogos da direita. Não sei se o Instituto cultiva a figura do simpatizante, mas seguramente há um número muito grande deles nos meios de comunicação da velha mídia. A matéria de Débora Prado chama-os de amigos. E cita Reinaldo Azevedo, José Nêumanne Pinto e Ricardo Amorim. Sem quaisquer ligações formais, há muitas outras personalidades, jornalistas ou não, que comungam inteiramente dos ideais do Millenium. A matéria noticia que Pedro Bial participa da Câmara de Fundadores e Curadores da entidade e que João Roberto Marinho, Roberto Civita e Roberto Mesquita – Globo, Abril e Estadão – são da Câmara de mantenedores. O Conselho Editorial é composto por Antonio Carlos Pereira, do Estadão, e por Eurípides Alcantara, de Veja. Um quartel-general da direita, bastante conhecido, dirigentes do partido midiático.
Esse tipo de articulação de direita não constitui uma novidade no Brasil. O Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), surgido em 1961, e o Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), nascido em 1959, são seus predecessores, ancestrais do golpismo no Brasil. Surgem, anotem, para conter o avanço do comunismo, nome que se dava à movimentação dos trabalhadores por reformas, e, claro, conter os agentes políticos que se dispusessem a levar à frente projetos reformistas. As duas entidades – na verdade, uma poderosa articulação política – tinham objetivos comuns, e a atuação delas ganhou intensidade depois da chegada de João Goulart ao governo, e contaram com a participação decisiva da mídia de então.
Goulart aparecia para as duas entidades como a encarnação do comunismo, embora saibamos que essa era uma linha argumentativa destinada a assombrar os brasileiros, especialmente as camadas médias e as senhoras católicas. O que o IPES e o IBAD não aceitavam era um governo reformista, como era o de Goulart. A mídia obviamente também não aceitava, como não aceita o projeto político iniciado em 2003. IPES e IBAD trabalharam intensamente a favor do golpe, formaram uma base ideológica e política fundamental para o sucesso daquela empreitada que nos envolveu numa longa noite de terror, de perseguição, de torturas, de desaparecimentos de pessoas, que persistiu até 1985.
Uma família unida. Discutia muito na Universidade Federal da Bahia, quando professor da Faculdade de Comunicação, o quanto a velha mídia tinha de identidade de propósitos e de como agia de acordo com tais propósitos. A linha editorial era absolutamente semelhante, e a pauta parecia que era combinada todo dia entre eles. Lia um jornal, bastava. Os outros dariam o mesmo enfoque. E assim com as tevês, diferenças apenas aquelas dadas pela abundância de recursos de uma, escassez de outras. As revistas, salvo exceções como CartaCapital (para falar só de semanais) também guardavam uma semelhança impressionante. E alguns de meus colegas, bons professores, diziam que eu tinha uma visão conspiratória.
Não se trata de nenhuma visão conspiratória. É que há uma consonância ideológica. Os meios da velha mídia não precisam se reunir para que tudo saia num mesmo diapasão. Tocam de ouvido. Têm a mesma ideologia, a mesma compreensão de mundo, a mesma visão política, o mesmo projeto político para o Brasil. Assim, em princípio, seria desnecessário um Instituto Millenium. Afinal, a concordância é natural. Esses meios fazem parte de uma mesma família política e ideológica. Por que então o Millenium? Essa a pergunta que intriga.
O professor Demian Bezerra de Melo, da Universidade Federal Fluminense, diz que a atuação do Instituto tem o sentido histórico da contenção – conter o avanço de governos de esquerda na América Latina, sejam quais forem as formas que eles adquiram. Creio que é uma boa pista. Penso, como acréscimo, que há, por parte do Instituto, uma particular preocupação com o Brasil, por obviedade. Contenção de um projeto político de esquerda que vem se afirmando há praticamente uma década. O Brasil tem mudado. A renda do povo melhorou. Nossa soberania afirmou-se. Somos respeitados em todo o mundo. Firmamos uma liderança popular como Lula – no Brasil e no mundo. Dilma afirma-se como grande presidenta, querida do povo. A classe trabalhadora tem um protagonismo acentuado.
Apesar de você. E tudo isso está ocorrendo apesar da mídia, e não contando com ela. O sucesso desse projeto acendeu o sinal vermelho para a direita brasileira, em todos os seus matizes. E o Millenium chega para tentar sustentar teoricamente a luta dos que ainda defendem o neoliberalismo à brasileira. Não lembrei o IPES e o IBAD por acaso. Não podemos esquecer as lições da história. O Millenium acompanha uma tradição golpista existente no Brasil, uma tradição golpista da nossa velha mídia inclusive. Não aceita, não engole um governo que, pela via democrática, e com parâmetros distintos do neoliberalismo, está mudando o Brasil. E fará de tudo para derrotar esse projeto. De tudo.
Assim, face a esse tipo de organização, é fundamental, para além da atuação cotidiana dos partidos políticos que se opõem à ideologia defendida pelo Millenium, que todos nós tenhamos consciência do quanto é essencial a luta pela democratização dos meios de comunicação no Brasil. E luta pela democratização significa garantir a emergência de tantos outros atores sociais que estão excluídos da cena midiática, que não tem a chance de transitar nela, esmagados pelos monopólios. Esta é uma luta política essencial dos nossos dias. Esperamos que brevemente chegue à Câmara Federal o projeto do novo marco regulatório das comunicações para que, com ele, assistamos a emergência de um novo tempo nessa área, que consiga revelar o Brasil diverso em que vivemos, tão rico culturalmente, que permita o trânsito, na esfera midiática, de pensamentos diferentes dos professados pelo Millenium.
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Instituto Millenium: ódio à esquerda e a Lula
Do blog Cidadão
"(...) o Millenium funda seus princípios na liberdade dos mercados e no medo do “avanço do comunismo”, hoje personificado nos movimentos bolivarianos de Hugo Chávez, Rafael Correa e Evo Morales. Muitos de seus integrantes atuais engrossaram as marchas da família nos anos 60 e sustentaram a ditadura. Outros tantos, mais jovens, construíram carreiras, principalmente na mídia, e ganharam dinheiro com um discurso tosco de criminalização da esquerda, dos movimentos sociais, de minorias e contra qualquer política social, do Bolsa Família às cotas nas universidades."
"Montado
sob a tutela do suprassumo do pensamento conservador nacional e
financiado por grandes empresas, o instituto vende a imagem de um
refinado clube do pensamento liberal, uma cidadela contra a barbárie.
Mas a crítica primária e o discurso em uníssono de seus integrantes têm
pouco a oferecer além de uma narrativa obscura da política, da economia e
da cultura nacional. Replica, às vezes com contornos acadêmicos, as
mesmas ideias que emanam do carcomido auditório do Clube Militar, espaço
de recreação dos oficiais de pijama."
"Em pouco tempo, aparelhado por um batalhão de 'especialistas', virou um bunker antiesquerda e principal irradiador do ódio de classe e do ressentimento eleitoral dedicado até hoje ao ex-presidente Lula."
"Em pouco tempo, aparelhado por um batalhão de 'especialistas', virou um bunker antiesquerda e principal irradiador do ódio de classe e do ressentimento eleitoral dedicado até hoje ao ex-presidente Lula."
Imagem: Minha Lapa, minha vida |
Saudades de 1964
Leandro Fortes - Carta Capital
Em
2010, graças à adesão maciça de empresários e doadores antipetistas em
geral, a arrecadação do Millenium praticamente dobrou. A receita no ano
eleitoral foi de 1 milhão de reais, dos quais 65% vieram de doações de
empresas privadas. O número de funcionários remunerados quase dobrou, de
quatro para sete, e as contas fecharam no azul, com superávit de 153,9
mil reais.
Segundo
as informações referentes ao exercício de 2011, a arrecadação do
Millenium caiu pouco (951,9 mil reais) e se manteve na mesma relação
porcentual de doadores (65% de empresas privadas, 35% de doações de
pessoas físicas). O problema foi fechar as contas. No ano passado, a
entidade amargou um prejuízo de 76,6 mil reais, mixaria para o volume de
recursos reunidos em torno dos patrocinadores e mantenedores. Apenas
com verbas publicitárias repassadas pelo governo federal, a turma
midiática do Millenium faturou no ano passado 112,7 milhões de reais.
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Mídia derrotada mais uma vez pelo PT de Lula
Ricardo Kotscho, no Balaio
Perderam para Lula em 2002.
Perderam para Lula em 2006.
Perderam para Lula e Dilma em 2010.
Perderam para Lula e Haddad em 2012.
A aliança contra Lula e o PT montada pelos barões da mídia reunidos no Instituto Millenium sofreu no domingo mais uma severa derrota.
Eles simplesmente não aceitam até hoje que tenham perdido o poder em 2002, quando assumiu um presidente da República fora do seu controle, que não os consultava mais sobre a nomeação do ministro da Fazenda, nem os convidava para saraus no Alvorada.
Pouco importa que nestes dez anos tenha melhorado a vida da grande maioria dos brasileiros de todos os níveis sociais, inclusive a dos empresários da mídia, resgatando milhões de brasileiros da pobreza e da miséria, e dando início a um processo de distribuição de renda que mudou a cara do País.
Lula e o PT continuam representando para eles o inimigo a ser abatido. Pensaram que o grande momento tinha chegado este ano quando o julgamento do mensalão foi marcado, como eles queriam, para coincidir com o processo eleitoral.
Uma enxurada de capas de jornais e revistas com quilômetros de textos criminalizando o PT e latifúndios de espaço sobre o julgamento nos principais telejornais nos últimos três meses, todas as armas foram colocadas à disposição da oposição para o cerco final ao ex-presidente, mas a bala de prata deu chabu.
Na noite de domingo, quando foram anunciados os resultados, a decepção deve ter sido grande nos salões da confraria do Millenium, como dava para notar na indisfarçada expressão de derrota dos seus principais porta-vozes, buscando explicações para o que aconteceu.
Passada a régua nos números, apesar de todos os ataques da grande aliança formada pela mídia com os setores mais conservadores da sociedade brasileira, o PT de Lula e Dilma saiu das urnas maior do que entrou, como o grande vencedor desta eleição.
“PT — O maior vencedor” é o título do quadro publicado pela Folha ao lado dos mapas das Eleições em todo o País. Segundo o jornal, o PT “foi o campeão em dois dos mais importantes critérios. Além de ter sido o mais votado no 1º turno (17,3 milhões), é o que irá governar para o maior número de eleitores”.
De fato, com os resultados do segundo turno, o PT irá governar cidades com 37,1 milhões de habitantes, onde vive 20% do eleitorado do País. Com cidades habitadas por 30,6 milhões, o segundo colocado foi o PMDB, principal partido da base aliada.
“Em relação aos resultados das eleições de 2008, o total de eleitores governados por prefeitos petistas crescerá 29% em 2013, quando os eleitos ontem e no primeiro turno deverão assumir”, contabiliza Ricardo Mendonça no mesmo jornal.
Do outro lado, aconteceu exatamente o contrário: “Já os partidos que fazem oposição ao governo Dilma Rousseff saem da eleição menores do que entraram. Na comparação com 2008, PSDB, DEM e PPS, os três principais oposicionistas, terão 309 prefeituras a menos. Puxados para baixo principalmente pelo DEM, irão governar para 10,5 milhões de eleitores a menos”.
Curiosa foi a manchete encontrada pelo jornal “O Globo” para esconder a vitória do PT: “Partidos ficam sem hegemonia nas capitais”. E daí? Quando, em tempos recentes, algum partido teve hegemonia nas capitais? Só me lembro da Arena, nos tempos da ditadura militar, que o jornal apoiou e defendeu, quando não havia eleições diretas.
O que eles estarão preparando agora para 2014? Sem José Serra, que perdeu de novo para um candidato do PT que nunca havia disputado uma eleição, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, eleito com 55,57% dos votos, terão que encontrar primeiro um novo candidato.
Ao bater de frente pela segunda vez seguida num “poste do Lula”, o tucano preferido da mídia corre agora o risco de perder também a carteira de motorista.
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Mídia derrotada mais uma vez pelo PT de Lula
Ricardo Kotscho, no Balaio
Perderam para Lula em 2002.
Perderam para Lula em 2006.
Perderam para Lula e Dilma em 2010.
Perderam para Lula e Haddad em 2012.
A aliança contra Lula e o PT montada pelos barões da mídia reunidos no Instituto Millenium sofreu no domingo mais uma severa derrota.
Eles simplesmente não aceitam até hoje que tenham perdido o poder em 2002, quando assumiu um presidente da República fora do seu controle, que não os consultava mais sobre a nomeação do ministro da Fazenda, nem os convidava para saraus no Alvorada.
Pouco importa que nestes dez anos tenha melhorado a vida da grande maioria dos brasileiros de todos os níveis sociais, inclusive a dos empresários da mídia, resgatando milhões de brasileiros da pobreza e da miséria, e dando início a um processo de distribuição de renda que mudou a cara do País.
Lula e o PT continuam representando para eles o inimigo a ser abatido. Pensaram que o grande momento tinha chegado este ano quando o julgamento do mensalão foi marcado, como eles queriam, para coincidir com o processo eleitoral.
Uma enxurada de capas de jornais e revistas com quilômetros de textos criminalizando o PT e latifúndios de espaço sobre o julgamento nos principais telejornais nos últimos três meses, todas as armas foram colocadas à disposição da oposição para o cerco final ao ex-presidente, mas a bala de prata deu chabu.
Na noite de domingo, quando foram anunciados os resultados, a decepção deve ter sido grande nos salões da confraria do Millenium, como dava para notar na indisfarçada expressão de derrota dos seus principais porta-vozes, buscando explicações para o que aconteceu.
Passada a régua nos números, apesar de todos os ataques da grande aliança formada pela mídia com os setores mais conservadores da sociedade brasileira, o PT de Lula e Dilma saiu das urnas maior do que entrou, como o grande vencedor desta eleição.
“PT — O maior vencedor” é o título do quadro publicado pela Folha ao lado dos mapas das Eleições em todo o País. Segundo o jornal, o PT “foi o campeão em dois dos mais importantes critérios. Além de ter sido o mais votado no 1º turno (17,3 milhões), é o que irá governar para o maior número de eleitores”.
De fato, com os resultados do segundo turno, o PT irá governar cidades com 37,1 milhões de habitantes, onde vive 20% do eleitorado do País. Com cidades habitadas por 30,6 milhões, o segundo colocado foi o PMDB, principal partido da base aliada.
“Em relação aos resultados das eleições de 2008, o total de eleitores governados por prefeitos petistas crescerá 29% em 2013, quando os eleitos ontem e no primeiro turno deverão assumir”, contabiliza Ricardo Mendonça no mesmo jornal.
Do outro lado, aconteceu exatamente o contrário: “Já os partidos que fazem oposição ao governo Dilma Rousseff saem da eleição menores do que entraram. Na comparação com 2008, PSDB, DEM e PPS, os três principais oposicionistas, terão 309 prefeituras a menos. Puxados para baixo principalmente pelo DEM, irão governar para 10,5 milhões de eleitores a menos”.
Curiosa foi a manchete encontrada pelo jornal “O Globo” para esconder a vitória do PT: “Partidos ficam sem hegemonia nas capitais”. E daí? Quando, em tempos recentes, algum partido teve hegemonia nas capitais? Só me lembro da Arena, nos tempos da ditadura militar, que o jornal apoiou e defendeu, quando não havia eleições diretas.
O que eles estarão preparando agora para 2014? Sem José Serra, que perdeu de novo para um candidato do PT que nunca havia disputado uma eleição, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, eleito com 55,57% dos votos, terão que encontrar primeiro um novo candidato.
Ao bater de frente pela segunda vez seguida num “poste do Lula”, o tucano preferido da mídia corre agora o risco de perder também a carteira de motorista.
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A privatização da moral pública
Por Luciano Martins Costa - Observatório da Imprensa
A impossibilidade eventual de sair batendo perna pela cidade (já que
este observador se encontra temporariamente com pouca mobilidade física)
abre a oportunidade para a bisbilhotagem continuada, por longas horas,
das redes sociais digitais. E o que se vê, basicamente, é a construção
de um abismo onde deveriam vicejar naturalmente novos vínculos sociais e
onde antigos vínculos podem ser retomados e reanimados pelo encontro
virtual.
Aparentemente, após três dias de imersão nas redes sociais, pode-se
concluir que a imprensa brasileira está trabalhando ativamente na
desconstrução do conceito de sociedade democrática.
Ao se colocar agressivamente contra determinadas figuras da República,
usando critérios diferenciados para fatos similares, as principais
empresas de comunicação do país estabelecem um padrão para o jornalismo
sobre o qual um dia haverão de ser cobradas. Esse padrão é composto por
elementos de preconceito e manipulação, mas apresentado sob o manto
virtuoso da defesa da moralidade pública.
Manipulação de imagens
A palavra mágica é, como sempre, ética. O contexto, porém, é o dos tribunais de inquisição.
Dois presidentes da República. Um deles foi acusado de comprar apoio no
Congresso para fazer aprovar o direito de disputar a reeleição. O
outro, tendo a possibilidade de se reeleger quanto quisesse, cumpriu a
lei e deixou o poder.
Para um, o olhar da imprensa é complacente. Afinal, ele estabilizou a
moeda, reorganizou o sistema financeiro, atuou dentro dos paradigmas do
mercado. Para o outro, a lei. Mas não apenas a lei aplicada pela
Justiça: principalmente a lei do arbítrio, quando a sentença é anterior
ao julgamento.
Considerem-se apropriadas todas as decisões tomadas recentemente pelo
Supremo Tribunal Federal no caso chamado de mensalão. Ainda assim, nada
justifica a sanha da imprensa, em ataques pessoais, a não ser um ódio
que precede o caso em si.
Ao abandonar a linguagem jornalística apropriada para adotar o discurso
político, a imprensa induz boa parte da sociedade a adotar retórica
semelhante, com o que, então, se dá adeus à racionalidade. Um dos
resultados pode ser a ruptura do tecido social.
Mas há uma ironia nessa história: observando-se manifestações nas redes
sociais, parece que a parcela de opiniões críticas sobre esse
desempenho da imprensa cresce mais do que aquela parcela que compartilha
as opiniões do noticiário editorializado.
O tema está a merecer uma pesquisa de comunicadores, mas pode-se
afirmar que o campo político onde se situam aqueles que discordam da
imprensa se transformou em terreno minado onde nunca mais haverão de
brotar assinaturas desses jornais e revistas – e onde a publicidade
veiculada nessas mídias tende a produzir efeito negativo para os
anunciantes.
São decisões editoriais que comprometem o futuro da mídia tradicional, e
o principal erro da imprensa tem sido quanto ao uso de seu suposto
poder de influenciar pessoas: não é de hoje que pesquisadores como o
britânico Paul Johnson (católico e conservador) observam que a
manipulação de imagens em favor de interpretações preconcebidas, antes
um vício da televisão, acabou dominando a mídia impressa.
Processo em curso
Há mais de dez anos, Johnson já dizia que os pecados típicos da
imprensa tradicional quando ela começou a se apropriar das tecnologias
digitais de informação e comunicação eram preconceito, manipulação,
precipitação e editorialização.
A observação da imprensa brasileira faz lembrar uma das frases mais
emblemáticas criadas por Paul Johnson nesse período: “A mídia é uma arma
carregada quando utilizada com hostilidade”.
Hostilidade e agressividade são as palavras centrais para descrever o
conteúdo jornalístico que tem sido oferecido aos leitores e
telespectadores nos últimos anos, no seu esforço desenfreado e
irracional para criar e aprofundar uma divisão na sociedade brasileira.
Preconceito, manipulação, precipitação e editorialização são expressões
que ficam mal dissimuladas sob o discurso moralizante que domina a
linguagem jornalística.
A denúncia dos maus procedimentos, a fiscalização dos poderes, o papel
essencial da imprensa de organizar a agenda pública para manter em
evidência os valores fundamentais da vida republicana, implicam
equilíbrio e algum compromisso com a busca da verdade.
O que se vê, claramente, é o uso político de informações fora de
contexto, em nome da ética. Não se trata, nesse sentido, de ética
propriamente, mas de moralidade, expressão definida especificamente na
Constituição brasileira. Trata-se, claramente, de um processo de
privatização da moralidade pública.
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