Parte dos docentes temporários do Estado está sem receber desde o início das aulas, em fevereiro
Imagem: José Patricio/AE - Protesto em reunião de assembleia dos professores. |
A Secretaria Estadual de Educação não informou exatamente quantos
professores não receberam pagamento. Cerca de 29 mil docentes são
temporários e trabalham regidos por contrato - 13,4% do total da rede. A
reportagem conversou com 12 docentes que atuam como temporários - eles
trabalham em escolas em vários locais da capital e do interior do
Estado.
Em
fevereiro, a gestão do governador Geraldo Alckmin (PSDB) havia
informado que atrasos poderiam acontecer com ingressantes na rede por
causa de problemas de cadastramento. Apesar disso, todos seriam pagos na
segunda quinzena de março. Mas nada disso se concretizou. A falta de
pagamentos atinge professores que já atuam na rede há pelo menos um ano,
alguns com contratos em vigência. Muitos nem sequer têm previsão de
receber. E continuam da mesma forma.
A
professora de Língua Portuguesa Carina Siqueira, de 24 anos, dá aulas
na Escola Maria Isabel Fontoura, na zona rural e Cachoeira Paulista,
interior de São Paulo. Ela atua na rede há mais de 5 anos como
contratada. Seu último contrato, com vigência de um ano, foi firmado em
setembro - mesmo sem passar por renovação, não recebeu.
"Estou
dando aulas desde a primeira semana de fevereiro e não recebi nada até
agora. Neste mês, meu salário não foi provisionado e não vou receber de
novo. Ninguém sabe explicar o porquê, é muito humilhante", diz ela, que
mora em Lorena. "Tenho de pegar dois ônibus para dar aula e estou
pedindo dinheiro para meu pai. Só estou comendo por causa dele e de
outros bicos que tenho feito."
O
caso não é isolado. Professora no Estado desde 1991, Janice Aparecida
da Silva, de 40 anos, chegou a receber em fevereiro, após muitas
reclamações. Nos meses seguintes, entretanto, ficou sem ver o dinheiro.
"Não consegui comprar os remédios que são de uso contínuo. Ninguém
explica nada. Na escola, a culpa é da secretaria. Na diretoria de
ensino, é da secretaria, que diz que a culpa é da Fazenda", diz ela, que
está de licença médica. No mês de maio, o pagamento apareceu no
holerite, mas abaixo do que ela tem direito.
Na
escola de Juliana, que pede para não ser identificada por medo de
represálias, na zona sul da capital, há três professores sem pagamento.
"Estou contando com ajuda da minha mãe para pagar as minhas contas e as
do meu filho de 9 anos", diz ela, que trabalha no Estado desde 2009.
'Absurdo'.
Segundo o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em
Educação (CNTE), Roberto Leão, o Estado de São Paulo se destaca quando o
assunto é atraso de salários. "Isso é um absurdo, em dias que se fala
em computação, com tudo informatizado, ter problemas de cadastro,
desorganização, é inacreditável", afirma.
Em
nota, a secretaria alega problemas burocráticos e defende que os casos
são pontuais. Segundo a pasta, "as diretorias de ensino serão orientadas
a verificar casos de profissionais que eventualmente não tenham
recebido seus vencimentos para que situações como essas sejam
regularizadas". A secretaria também não deu prazo para normalizar a
situação.
Um comentário:
Nas próximas eleições, quem sabe, eles votarão em pessoas melhores. Quem sabe?
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