Violência contra a mulher, vamos combater. Muitas sofrem por medo, constrangimento e desinformação. Disque-denúncia: 181 . Guardem e divulguem esse número. Hoje todos podem ajudar. #DiaInternacionaldaMulher
A documentarista Jean Kilbourn é uma feminista norte-americana. Desde 1979, em documentários,
palestras e vídeos, ela discute a imagem da mulher na mídia. Segundo Kilbourne, algumas vezes lhe perguntam se
depois de tantos anos falando sobre o assunto as coisas melhoraram.
Não, mesmo depois de tantos anos de campanhas, palestras, debates, leis,
a situação da violência contra a mulher, na realidade, piorou, ela
responde.
No Brasil, infelizmente não é diferente. De acordo com a Agência Patrícia Galvão,
“seis em cada dez brasileiros conhecem alguma mulher que foi vítima de
violência doméstica [...] uma em cada cinco mulheres consideram já ter
sofrido alguma vez ‘algum tipo de violência de parte de algum homem,
conhecido ou desconhecido’”. Conforme estatística divulgada pela ONG “Quebre o Ciclo”,
a cada dois minutos cinco mulheres são espancadas no Brasil. E a Lei
Maria da Penha, em 2012, completa cinco anos. O que precisamos então
fazer para acabar com a violência contra a mulher?
No dia 10 de fevereiro deste ano, foi anunciada a decisão do STF que, supostamente, fortalece a Lei Maria da Penha.
A partir de então, a denúncia contra o agressor pode ser feita pelo
Ministério Público. Ou seja, não é necessário que a vítima denuncie seu
agressor, qualquer pessoa pode fazê-lo, basta ligar para o
Disque-Denúncia (181) e não precisa se identificar. De fato, é um
progresso, no entanto, não é suficiente. Na prática, um promotor de
justiça denuncia o agressor e inicia-se a investigação. A partir desse
momento será necessário haver testemunha. Ora, agressão doméstica é
violência que acontece dentro de quatro paredes. Quem são as
testemunhas? Em geral, pessoas envolvidas na situação. Está aí o
problema número um. O avanço da lei é importante, sobretudo, porque faz
com que o caso de agressão seja de obrigação do Ministério Público, mas
como investigar sem testemunhas? Muitas mulheres — 68% conforme Agência
Patrícia Galvão — têm vergonha e portanto não denunciam. Por isso a
decisão do STF ajuda, certo? Nem tanto. Há situações — infelizmente não
tenho estatísticas para essas — em que um promotor de justiça insiste no
caso, mas a mulher acaba por dizer que não foi agressão e, por uma
série de questões além da vergonha, não colabora com a investigação que,
então, acaba arquivada e a violência continua por falta de provas.
Então, o que precisamos fazer para acabar com essa violência?
Claro, em primeiro lugar, denunciar, apoiar, respeitar. Mas e o
governo? Onde estão os abrigos para acolher as mulheres que muitas vezes
precisam, além de se proteger, cuidar dos filhos? E, principalmente,
onde estão os psicólogos para dar apoio às mulheres que se sentem
envergonhadas, humilhadas e muitas vezes culpadas quando o culpado é o
agressor?
E o que mais intriga: por que a sociedade insiste em tratar a mulher como objeto?
Nesse último trabalho de Jean Kilbourne o foco é a propaganda.
Kilbourne ressalta o fato de que o marketing vende mais que apenas
produtos, vende, em vários casos, a ideia de que o que é mais importante
em uma mulher é sua aparência. As empresas nos rodeiam com imagens de
uma beleza feminina ideal produzida por tratamento de imagem e,
portanto, impossível de ser alcançada. Se a mulher busca o que é
impossível alcançar, qual será o resultado? Frustração. Dessa forma,
desde cedo — cada vez mais cedo — as garotas aprendem que devem gastar
tempo, energia e dinheiro na busca dessa beleza ideal para então
sentirem-se envergonhadas e culpadas quando falharem. Ninguém se parece
com as imagens que são divulgadas, nem mesmo as próprias protagonistas
de tais imagens.
O corpo feminino é usado; é transformado em objeto. Utiliza-se a
mulher em propagandas de cerveja e outras bebidas alcóolicas, de carros,
motos e desodorantes masculinos — observe a diferença: um homem que
usa desodorante ganha mulheres, a mulher, por outro lado, ganha axilas
sem mancha, roupas que não ficam amareladas debaixo do braço, pele mais
macia — ou seja, a mulher é “coisificada”, é troféu, além disso, é um
objeto que deve estar sempre impecável. Isso é uma das sementes da
violência, afinal de contas, um objeto pode ser jogado de lado, doado,
vendido, quebrado ao meio. Objetos quebram e são remendados; se não
puderem ser remendados, são jogados fora.
Mas a mulher não. A mulher não é coisa, é ser humano.
Então, o que você pode fazer para acabar com a violência contra a
mulher? O que o governo pode fazer? O que todos nós, juntos, podemos
fazer para dar fim à violência contra a mulher?
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Maria da Penha, sobrevivente
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Maria da Penha, quando jovem. |
Enquanto
esteve casada com Heredia Viveiros, Maria da Penha sofreu agressões e
ameaças e tinha medo de pedir a separação e, por consequência, agravar a
situação. Mas foi exatamente isto o que aconteceu: a situação passou
dos limites. Em 1983, Maria da Penha sofreu uma tentativa de homicídio.
Seu então marido atirou em suas costa e a deixou paraplégica. Em sua
defesa, Heredia Viveiros afirmou que o ato foi consequência de uma
tentativa de roubo que sofreram.
Não parou por aí. Duas semanas depois do
tiro, Maria da Penha sofreu nova tentativa de homicídio. O marido tentou
eletrocutá-la no banheiro. Finalmente ela decidiu se separar.
Testemunhas ajudaram no caso e deixaram
claro que Heredia Viveiros havia premeditado as agressões. Depois de 15
anos das agressões, o caso ainda estava sem solução e o agressor em
liberdade.
O relato detalhado do caso pode ser lido em
“Sobrevivi, posso contar”, escrito pela própria Maria da Penha e
publicado pela editora Armazém da Cultura, que publicou também a Lei Maria da Penha em forma de cordel.
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