Por Demétrio Weber - 03.01.2011 
BRASÍLIA  - Mantido no cargo, o ministro da Educação, Fernando Haddad, quer que a  oferta de ensino médio em tempo integral, associado ao ensino técnico,  seja uma das marcas do governo Dilma Rousseff. Ele apresentará à  presidente um plano de ação para que estudantes de todo o país possam  fazer o curso regular num turno e, no outro, o profissionalizante.  "Vamos apresentar propostas nesse sentido: reforçar o ensino médio de  tempo integral", diz Haddad. O plano terá como foco também a valorização  do magistério e a educação infantil. Aos 47 anos, ele está à frente do  Ministério da Educação desde julho de 2005. Antes, foi  secretário-executivo da pasta, de janeiro de 2004 até virar ministro.
Como será o MEC no governo Dilma?
FERNANDO  HADDAD: É continuidade com inovação. Não faz sentido alterar a rota.  Entendo que, para a educação brasileira, se nós levarmos em consideração  o que foi anunciado em 2007 (no lançamento do Plano de Desenvolvimento  da Educação), nossos compromissos foram honrados.
Quais serão as prioridades daqui para a frente?
HADDAD:  Em primeiro lugar, a presidente Dilma assimilou com muita naturalidade  um conceito que a sociedade reconheceu como forte, o bordão que não  cansamos de repetir, que nossa política iria da creche até a  universidade. Mas ela fez referência a três aspectos que me parecem  importantes: a questão da educação infantil, a da juventude, com atenção  especial ao ensino médio, e a da valorização do magistério.
O que o senhor pretende fazer na educação infantil?
HADDAD:  É preciso mudar o ambiente da creche, da pré-escola, fortalecer essas  unidades como estabelecimentos de ensino. Atender mais crianças,  universalizar a pré-escola até 2016. Mas também atuar do ponto de vista  qualitativo.
O MEC terá fôlego para fazer seis mil creches em quatro anos, como prometido?
HADDAD:  Olha, conhecendo a presidente, eu diria que ela honrará seus  compromissos com o país. Ela é bastante obstinada em relação à palavra.
O que o governo fará para tornar a carreira do magistério mais atraente?
HADDAD:  O sistema de educação no Brasil, sobretudo o ensino fundamental, reagiu  às políticas do Ministério da Educação positivamente. Assimilou a  cultura da qualidade, do acompanhamento e do cumprimento de metas. Mas  nós temos que reconhecer que esse ímpeto inicial vai encontrar, num  médio prazo, um obstáculo, que é justamente a renovação do ambiente  escolar.
Como atrair os melhores profissionais para o magistério?
HADDAD:  Aí é que entra em cena um elemento que nós queremos trabalhar  imediatamente, que é a ideia de uma prova nacional de concurso.
A ideia é que essa prova substitua os concursos realizados hoje por prefeituras e governos estaduais?
HADDAD:  Sim. De posse do resultado, o professor poderá optar pelo sistema de  ensino que oferece a ele as melhores condições de trabalho.
O que levará municípios e estados a adotarem os resultados da prova nacional?
HADDAD:  Há uma grande vantagem: a seleção está pré-elaborada, basta abrir o  edital e convocar (os professores), a partir dos resultados. E,  obviamente, o professor que desejar exercer a profissão naquele  município vai se inscrever. O magistério é uma categoria nacional, que  nós temos que valorizar.
E de onde sairá o dinheiro para salários mais atrativos?
HADDAD:  Na minha opinião, uma das razões pelas quais o pretexto da falta de  recursos sempre aparece na mesa é o temor que existe de que isso não vai  impactar a qualidade. Mas, se o gestor pode fazer uma seleção de  docentes a partir do desempenho numa prova nacional de concurso, ele  terá segurança de que as melhores condições oferecidas vão ter um  impacto favorável na realidade da escola.
Quando será a prova?
HADDAD: A previsão é que ela aconteça no primeiro semestre de 2012.
No começo do governo...
HADDAD:  Só para concluir, o terceiro ponto a que eu fiz menção é o ensino  médio. Entendo que também nesse ponto nós demos passos importantes. Mas,  no caminho da diversificação para atender mais e melhor às expectativas  dos estudantes, sobretudo aqueles que estão fora da escola, temos que  reforçar a concomitância do ensino médio com a educação profissional.
De que forma?
HADDAD:  Em tempo integral. O estudante faz o ensino médio e a educação  profissional em dois turnos, na mesma escola ou não. A forma  concomitante avançou pouco, e eu penso que nós devemos apostar na  concomitância. Porque aí você compatibiliza a necessidade do jovem que  cursa o ensino médio de se profissionalizar, porque muitos deles  precisam de uma profissão, em função das condições socioeconômicas da  família. E você incrementa a educação de tempo integral, porque o jovem  vai permanecer dois períodos na escola e não apenas um. Vamos sugerir  medidas à presidente nessa direção.
Que medidas?
HADDAD:  Não posso antecipar, porque vou apresentar o plano geral para a  presidente para que ela avalie antes de qualquer anúncio. Vamos  apresentar propostas nesse sentido: fortalecer o ensino médio de tempo  integral. Tenho certeza de que nós temos condições para isso.
Com o atual orçamento?
HADDAD: Isso é o que nós vamos...
É o ponto mais difícil?
HADDAD:  Por incrível que pareça, não passa só por isso. Passa muito mais por um  rearranjo das forças que atuam na área da educação profissional do que  propriamente por mais orçamento.
Quando o senhor terá essa conversa com a presidente?
HADDAD:  O mais rapidamente possível, porque ela certamente vai começar a  despachar com todos os ministros. Então, vamos apresentar um plano de  trabalho para que seja validado, e a gente possa iniciar esse novo  capítulo.
Por  Enéas Rodrigues -  03.01.2011

 
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