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Fundador do
Wikileaks, Julian Assange diz que um dos grandes problemas do Brasil e
da América Latina é a concentração da mídia; ele defende o presidente
equatoriano Rafael Correa, que lhe deu asilo, aprofunde a disputa com a
imprensa local. "Deveria atacar mais", diz ele. "Quando falamos em
liberdade de expressão, temos de incluir a liberdade de distribuição,
uma das coisas mais importantes que a internet nos deu", afirma
Refugiado na embaixada do
Equador em Londres, Julian Assange, fundador do Wikileaks, recebeu o
jornalista Jamil Chade, correspondente do Estado de S. Paulo, para falar
sobre seu livro Cypherpunks, Liberdade e o Futuro da Internet, que está
sendo lançado no Brasil pela Boitempo Editorial. Na entrevista, ele
disse que um dos principais problemas da América Latina é a concentração
da mídia. "No Brasil, seis famílias controlam 70% da informação".
Leia, a seguir, os principais trechos da conversa:
A web como arma
Tecnologia produz poder, a ponto de a história da
civilização humana ser a história do desenvolvimento de diferentes armas
de diferentes tipos. Por exemplo, quando rifles eram as armas
dominantes ou navios de guerra ou bombas atômicas. Desde 1945, a relação
entre as superpotências era definida por quem tinha acesso a armas
atômicas. Hoje, a internet redefiniu as relações de força antes
definidas pelas armas. Todas as sociedades que têm qualquer
desenvolvimento tecnológico, que são as sociedades influentes, se
fundiram com a internet. Portanto, não há uma separação entre sociedade,
indivíduos, Estados e internet. A internet é hoje o alicerce da
sociedade e conecta os Estados além das fronteiras. Conhecimento é
poder.
Vigilância global
A comunicação entre indivíduos ocorre pela internet.
Sistemas de telefone estão na internet, bancos e transações usam a
internet. Colocamos nossos pensamentos mais íntimos na internet,
detalhes, como diálogos entre marido e mulher e até nossa posição
geográfica. Enfim, tudo é exposto na internet. Isso significa que grupos
envolvidos na vigilância em massa realizam uma apropriação enorme de
conhecimento. Esse é o maior roubo da história.
Google e Facebook
O Google sabe o que você estava pensando. E sabe o que
você pensou no passado, porque quando você quer saber algum detalhe,
busca no Google. Sites que têm Google Adds, ou seja, todos os sites,
registram sua visita. O Google sabe todos os sites que você visitou,
tudo o que você buscou. Ele te conhece melhor que você. Você sabe o que
você buscou há dois dias? Não. Mas o Google sabe. Alguém pode dizer: o
Google só quer vender publicidade. Mas, na realidade, todas as agências
de inteligência dos EUA têm acesso ao material do Google. Eles acessaram
isso em nosso caso.(…) Países como a Islândia têm uma penetração no
Facebook de 88%. Mesmo que você não esteja no Facebook, seu irmão está e
está relatando sobre você.
Uso pela CIA
Pessoas querem compartilhar algo com meus amigos e amigos
de meus amigos, mas não com meus amigos e com a CIA. As pessoas estão
sendo enganadas.
Concentração de mídia
[Rafael Correa, presidente do Equador] deveria atacar
mais. A primeira responsabilidade da imprensa é a precisão e a verdade. O
grande problema na América Latina é a concentração na mídia. Há seis
famílias que controlam 70% da imprensa no Brasil, mas o problema é muito
pior em vários países. Na Suécia, 60% da imprensa é controlada por uma
editora. Na Austrália, 60% da imprensa escrita é controlada por (Rupert)
Murdoch. Portanto, quando falamos em liberdade de expressão, temos de
incluir a liberdade de distribuição, uma das coisas mais importantes que
a internet nos deu.
Revelações sobre o Brasil
Sim. Publicaremos muito sobre o Brasil neste ano.
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