A deputada federal Fátima
Bezerra (PT/RN) apresentará um projeto de lei no Congresso Nacional
solicitando que a data seja oficializada
como DIA NACIONAL DO BLOGUEIRO.
Nesta
sexta-feira, 15, diversas atividades marcam um ano do assassinato do 3º
blogueiro e ativista social em todo o mundo (antes de
#EdinaldoFilgueira foram mortos por seu ativismo o iraniano Omid Reza
Mir Sayafi e o Bahraini Zakariya Rashid Hassan al-Ashiri).
A
Deputada Federal Fátima Bezerra (PT-RN) apresentará projeto de lei
idealizado no III Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, haverá
passeata e missa em sua cidade natal, além de um twitaço com a hashtag
#EdinaldoFilgueira. Edinaldo Filgueira foi um lutador social, filho de
agricultores que nem sobrenome possuíam. Foi militante no movimento
estudantil, cultural, adquiriu formação superior, jornalista, blogueiro,
presidente do PT em sua cidade, e é um mártir na luta pela
democratização das comunicações.
"Despite
legislative progressive and some success in combating impunity, Brazil
can still be dangerous for journalists, especially in the north and
northeast. As in other countries, organized crime continues to be the
main direct source of threats. Handicapped by conflicts of interest,
Brazil’s media are also increasingly exposed to political and judicial
harassment, while Internet journalists are often subject to preventive
censorship.[1]
Em
tradução livre, o texto acima transcrito, contido no sitio da
organização internacional Reporters Without Borders, diz o seguinte: “A
despeito do progresso legislativo e algum sucesso no combate à
impunidade, o Brasil pode, ainda, ser perigoso para jornalistas,
especialmente no norte e nordeste. Tal qual em outros países, o crime
organizado continua a ser a principal fonte direta de ameaças. Aleijados
por conflitos de interesses, a mídia brasileira está também, cada vez
mais, exposta a assédio político e judicial, enquanto jornalistas na
Internet são frequentemente submetidos à censura preventiva”.
Para assistir ao documentário, basta clicar aqui. O Blog da Dilma já divulgou a iniciativa em uma entrevista que pode ser lida aqui. A seguir republicamos um texto escrito pouco após o abominável crime:
“Mas existe nesta terra
muito homem de valor
que é bravo sem matar gente
mas não teme o matador
que gosta de sua gente
e que luta a seu favor
como #EdinaldoFilgueira*
feito de ferro e flor”
Serra
do Mel é uma pequena cidade no interior do Rio Grande do Norte, uma
terra onde muitas leis apenas estão nos livros e papeis, e que a
realidade não é crível.
Fruto
de um projeto de reforma agrária, a cidade foi planejada com 23
agrovilas, projeto baseado nos moshav israelenses. Cada agrovila possui
um nome de um estado brasileiro, e o centro administrativo está nas
vilas de Brasília e do Rio Grande do Norte, hoje conurbadas.
Uma
cidade em que a democracia é apenas uma ilusão. Uma cidade em que a
única torre de telefonia é desligada a mando dos poderosos conforme o
seu interesse. Uma cidade em que seus habitantes não escolhem
democraticamente os seus governantes. Uma cidade em que o coronelismo se
espelha no número de eleitores, dois mil votantes a mais que
habitantes, com ônibus transportando desconhecidos dos locais. Uma
cidade em que é proibido andar de capacetes em motocicletas, em face ao
crime organizado e constante ameaça de pistoleiros.
Edinaldo
Filgueira era um dos colonos de Serra do Mel, e sua batalha era contra a
opressão e o sistema coronelista local. Foi o fundador e editor do
primeiro jornal da cidade, também foi o homem que levou o acesso a
internet para Serra do Mel, tanto o provedor de acesso, quanto a lan
house da pequena cidade.
Com
muito suor conseguiu se formar em administração de empresas, viajando
60km todas as noites após um dia de trabalho. Mas Edinaldo era
incansável, era o organizador independente que tocava grupos de teatros,
concursos de canções, mostras folclóricas de boi de reis.
Ednaldo,
antes de tudo, acreditava na informação como forma de libertação da
humanidade. Acreditava que o conhecimento e a comunicação livres eram as
armas para destruir os grilhões. Edinaldo era blogueiro, e foi
assassinado ao questionar a população através de uma enquete em seu
blogue sobre a educação pública de Serra do Mel. Ameaçado, retirou a
enquete do ar – mas a sua vida já estava encomendada a um grupo de
pistoleiros, já perseguidos pela polícia na operação “matadores de
aluguel”. Sua vida foi ceifada em frente de seu pequeno comércio, um dia
após colocar na web a enquete, sem direito à defesa, de maneira
covarde. A loja de Edinaldo ficava a apenas 50m da delegacia de polícia,
mas nada foi feito em sua defesa.
Edinaldo
foi morto quando concluía a edição 51 de seu jornal. Resgatamos o
material inconcluso, escrevemos alguma homenagem, e entregamos ao povo
de Serra do Mel.Esta edição do jornal pode ser lida aqui. Edinaldo conseguiu que a edição 51 do Jornal o Serrano fosse distribuída, mas Edinaldo nunca poderá ser substituído.
Que
Edinaldo nunca seja esquecido, calado, que a sua voz sempre ecoe.
Faltam palavras para este que escreve sobre a tristeza amarga de ver uma
pessoa simples, humilde, lutadora, ser morta. Mas não faltará trabalho,
nem vontade de lutar por justiça. O prefeito de Serra do Mel é
indiciado como autor intelectual do crime, e entre os matadores presos,
três são parentes do prefeito. Somos frágeis, somos humanos, mas somos
muitos. Os poderosos não poderão dar conta de todos.
*Poema escrito por Ferreira Gullar para homenagear o líder camponês Gregório Bezerra, lido durante a entrega dos jornais em Serra do Mel como parte das homenagens a Edinaldo Filgueira. (17/12/2011)
(texto por Tiago Aguiar; documentário por Tiago Aguiar e Adriana Amorim; O projeto de lei foi redigido por Liana Carlan.
A lista de agradecimentos é imensa, tão extensa que ocuparia muitos
posts. Tudo foi realizado na militância pela democratização das
comunicações).
Do Blog da Dilma
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