20 de nov. de 2012

Racismo camuflado: Zorra Total desmonta farsa teórica de Kamel



Ali Kamel, todo poderoso da Globo, publicou livro para negar a existência do racismo no Brasil, mas a programação da emissora que comanda, desmonta sua farsa teórica. Personagem de Zorra Total expõe racismo singularmente produzido pelas mídias televisivas.

Do blog Palavras Diversas



Mais umas palavrinhas: Adelaide, a personagem de Rodrigo Sant’anna, do humorístico Zorra Total, da Rede Globo, abusa de estereótipos que denigrem a mulher negra e pobre.

Em uma de suas falas a personagem teria dito: “Durante a enchente não pude ficar sem minha palha de aço, daí corri atrás para pegá-la e quando vi, eram os cabelos da minha filha”.
Logo na emissora em que um de seus maiores executivos, Ali Kamel, lançou livro para negar que o Brasil seja racista...

A luta por uma sociedade sem preconceito racial ainda promete durar muito tempo, infelizmente.

Neste dia nacional da consciência negra reproduzimos texto de Márcio André dos Santos, do blog Afrolatinidade, em que mostra que“Adelaide” é a prova concreta de que o “mito da democracia racial” ainda continua operando, confira abaixo:


"Adelaide" e o racismo camuflado em riso

Por  * Marcio André dos Santos - Afrolatinidade 

O personagem de “Adelaide” não é uma novidade na dramaturgia brasileira. A construção de um personagem negro, do sexo feminino e que tem como pretensão fazer as pessoas rirem sem parar data de pelo menos 40 anos. O livro que inspirou o documentário A Negação do Brasil de Joel Zito narra e analisa a presença dos negros na televisão brasileira. Presença marcada pela subalternidade e preconceito racial. 
Para quem nunca viu este personagem do programa Zorra Total da TV Globo, “Adelaide” é uma mulher negra, idosa e que entra no metrô pedindo esmolas e, consequentemente “importunando as pessoas”. Além do reforço racista e sexista que o programa faz em torno das mulheres negras e de todos os negros por extensão, em alguns episódios “Adelaide” exala um cheiro ruim, ou pelo menos é isso que as cenas querem nos comunicar. Imagine você na sala de estar, com sua família, crianças e de repente aparece uma mulher negra, mal vestida e fedendo. Além do fedor, ela não tem os dentes da frente e parece absolutamente ridícula... Todos riem às alturas. É essa a intenção. O riso, magicamente, nos tira por uns instantes a capacidade de perceber o horror por trás de tais cenas.

Eu poderia gastar muitas linhas aqui descrevendo as dezenas de cenas pejorativas dessa personagem, mas quero me concentrar em outro ponto: qual a ideia básica que fundamenta esse personagem? O que lhe dá sentido? Qual a intenção de um núcleo de profissionais de mídia e comunicação ao construir, detalhe por detalhe, uma caricatura totalmente negativa de uma mulher negra, idosa e pobre?
Dizer que é o racismo talvez não seja suficiente. Sim, é racismo. Entretanto, é um tipo de racismo singularmente brasileiro especificamente produzido pelas mídias televisivas. Os especialistas que criaram tal personagem – as elites editoriais, como diria Muniz Sodré – reeditam um imaginário surgido a pelo menos duzentos anos atrás por literatos, jornalistas e políticos brancos e ancoram nas plásticas vias do humor o pior do sentimento antinegro.
Existem muitas formas de definir e abordar o racismo. Pode ser visto como um instrumento de manutenção de privilégios econômicos; pode ser visto como sentimento de superioridade ou então como mecanismo de preservação de lugares simbólicos, culturais e psicológicos de um grupo em relação a outro. Pode também ser a mistura de tudo isso e até mesmo um tipo antigo de desumanização. Por exemplo, o tráfico transatlântico de escravos tinha como pressuposto a transformação de negros em coisas, objetos, seres sem alma e transcendência. Bichos, em suma. Opera-se assim um processo completo de animalização que justica toda e qualquer atrocidade.



“Adelaide” é uma representação contemporânea da desumanização negra que, no limite, assegura o privilégio da brancura, este artefato onipresente e multifacetado de poder. Privilégio  que se manifesta imagética e ideologicamente e forja a realidade tal como querem que a vejamos: ora manifestando-se sutil aos nossos olhos, ora completamente brutal.
“Adelaine” é prova concreta de que o “mito da democracia racial” continua operando (secretamente?) no cerne dos aparelhos produtores de imagens e imaginário social. Faz-nos rir dos crimes mais chocantes de nossa história, em feixes coloridos de um sábado a noite.


* Marcio André dos Santos é Cientista social, poeta, ativista negro, pai, cidadão do mundo.
 

Um comentário:

Jama Libya disse...
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