14 de nov. de 2009

O apagão global


Só para sossegar os amigos que temem por novos apagões ou o final do mundo antes de 21/12/2012.

Por Professor Sérgio

Seria cômico!

Após as 22:15 desta terça, sem luz, liguei o radinho do celular e fiquei ouvindo a CBN, para saber o que se passava. Antes das 23h já sabia que o apagão pegava Rio, Sampa e litoral paulista. Muitas informações óbvias vinham dos repórteres em repetidos “aqui as ruas estão completamente escuras”.

Jura?

Lá pelas tantas sabia-se que todas as turbinas de Itaipu pararam totalmente pelo sistema de emergência, o que indicava que algumas torres, sem poder transmitir, acionaram o sistema de segurança. Um professor engenheiro da Universidade de Brasília explicava que isso acontece para não haver sobrecarga no restante da transmissão, causando estragos maiores. Daí em diante cabe aos operadores fazer testes e ligar aos poucos as turbinas para descobrir a falha e superá-las. Os motivos podiam ser inúmeros.

Aí começou o circo. Encheram o especialista de pergunta para achar uma falha (política) que alimentasse o arsenal tucano: faltou energia, faltou investimento, falta usina, falta rede de transmissão???????????. Negativa após negativa, o especialista explicava a diferença do que aconteceu em 2001. Naquela época o Brasil produzia menos do que precisava. De lá para cá temos mais hidrelétricas e mais água, o suficiente (e de sobra), para nossas necessidades (e com sobra) e podendo acionar termoelétricas (poluentes) se a coisa um dia apertar. Quanto à transmissão, a rede foi toda interligada desde então de forma que se houver sobra no Sul, pode distribuir para o Norte e vice-versa. Geração, confere, transmissão, confere. Mesmo dito tudo isso, a “genial” musa do jornalismo global, a menina do Jô, Lúcia Hipólita, por telefone, filosofando o quanto somos dependentes da energia elétrica, disse que só aqui não se preparava para o verão onde se gasta mais energia. Culpava Lula por reduzir o IPI da linha branca. Ou seja, na opinião da leiga, a despeito do que dissera o especialista, o apagão se dera porque os pobres trocaram as geladeiras velhas por outras mais econômicas. Tenho uma geladeira aqui (bege) com mais de 20 anos e não sabia que estava sendo ecologicamente correto ao mantê-la. Uma Secretária (de saneamento ou sei lá do que) dizia de forma confusa que dava (ou não) para evitar o apagão em São Paulo e dizia para não se preocupar que aqui não ia faltar água, pois a SABESP tinha geradores para distribuir a água. Ok, entendemos essa parte.

A madrugada foi e eu dormi. Pela manhã, o desespero no “Bom Dia, Brasil” era maior. Disparam em outro Engenheiro e Professor. As mesmas perguntas e respostas. Só faltou perguntar: mas não dá pra culpar o Lula ou a Dilma, mesmo? Foi ridículo. O melhor que a Globo pôde conseguir foi a resposta: “Evitar? Há muitos especialistas no mundo estudando uma forma de resolver esse problema e prevenir essa situação” A solução seria informatizar e automatizar toda a rede elétrica, porém, uma tecnologia que pode ser feita, mas não está pronta. Já que os especialistas não respondem o que eles querem, chamem aquela tal Secretária, é, aquela, a do Serra. Mais bem preparada, disse leigamente, “poderia ser evitada, sim - o governador Serra (é claro) já fez um pedido ao Ministro para ... blá, blá, blá ... blá, blá, blá ... foi atendido, mas ainda não está pronto ... blá, blá, blá ... blá, blá, blá ... o Rio tem mais que São Paulo, que absurdo ... blá, blá, blá ... blá, blá, blá ... Os globais sossegaram. Não precisaram fazer perguntas porque ouviram o que queriam.

Após um dia de trabalho, CBN, hora do rush. Outro especialista reforçava as declarações do ministro, a estrutura é robusta, e os investimentos foram feitos. Ainda, exemplificou para o não conformado jornalista entender: um engenheiro faz um prédio para uma região onde se espera ventos de até 100 km/h. A probabilidade de um vento maior que isso em 100 ou 1000 anos é mínima, mas existe. Um dia, um vento de 200 por hora derruba o prédio. Pode-se culpar o Engenheiro? Claro que não. Encerrou o Engenheiro para a infelicidade global.

Depois do jogo, deixa dá uma olhadinha no Jornal da Globo, só por curiosidade. O quê? Em São Paulo faltou água de manhã? O cara da SABESP dizia que precisava de energia para distribuir água? Peraí ... Mas aquela mulher, é, aquela, a do Serra, ela não disse que ... Well...

Desistindo dos especialistas, o Jornal da Globo partiu para uma outra forma de cobertura. Primeiro fez um “pinga-fogo” com um representante Petista e o chiliquento e auto-intitulado lutador de Jiu-Jitsu, Artur Virgílio. Com aquelas caretas exageradas e branquelas ele gesticulava que a Dilma (Ministra da Casa Civil) deveria explicar o apagão, para ele e seus amiguinhos. Ignorou e andou para o argumento do adversário que inutilmente insistia que quem deveria vir explicar era o Ministro Lobão. A exemplo de Obama que não dá entrevista pra FOX, assumidamente Republicana, concordo com Paulo Henrique Amorim, pois, ninguém do governo deveria dar corda para esse povo da Globo. Debate com Artur Virgílio... fala sério, aí!

Seguindo o estilo Ali Kamel (Capo do Jornalismo Global), na sequência, eles fizeram contas dos prejuízos do apagão. Mostraram o padeiro, a vendedora, e as contas, 116 mi.

Depois foi interessante. Acho que eles perdem o controle do que as pessoas falam, às vezes. No link, com a repórter lá dos EUA, Cristiane Pelajo abriu aspas para citar o Ministro Lobão dizendo que lá nos States eles queriam fazer a interligação como é no Brasil, e sarcasticamente perguntou: e os americanos concordam com isso? Pois não é que eles queriam mesmo. Lá, sem o nosso poder de hidrelétricas, a distribuição é independente em grandes blocos. Obama pretende resolver o problema dos apagões lá que hoje é de 3 a cada 10 anos para 1 a cada 10 anos. Para isso, quer investir 6 bilhões de dólares pra criar uma rede computadorizada capaz de identificar e redistribuir a energia, ao identificar o problema automaticamente.

Ou seja, a resposta que a Globo queria: poderia ser evitado. Bastariam 6 Bilhões de Dólares, cerca de 50% a mais do previsto, para a construção da hidrelétrica de Belo Monte, prevista para entrar em operação em 2011, no rio Xingu, no Pará. Isso se tivéssemos aqui a mesma estrutura e suporte tecnológicos norte-americanos. Como não temos, o custo para “criar” essa tecnologia antiapagão, seria muito maior que os US$ 6 Bi. Talvez, quando tivermos o PIB dos EUA, evitaremos 3 apagões por década. Peralá... O último foi em 2001, e esse, sim, foi falta de investimento na era FHC.

Poupe-me, Globo e seus arautos de Serra 2010.

Se os desesperados insistirem em fazer comparações com FHC, concordo com Dilma, estamos pegando gosto por debater as comparações.

Tamanha é a palhaçada, que seria cômico, não fosse o poder massificante que a Globo sempre teve, desde a ditadura (aquela, dos militares). Temo a influência que essa papagaiada possa ter sobre os Homer Simpsons, a audiência do Jornal Nacional, segundo Willian Bonner. Se você se mantém informado somente pelas notícias do JN e não conhece o Homer, assista aos Simpsons, é bem divertido. Mas não se ofenda, foi o Bonner que disse.

Vejo o Brasil em um novo rumo, e o mundo em uma nova ordem. Se eles se consolidarem, essa imprensa sem vergonha não terá o mesmo espaço e poder. O problema é que ela se alimenta de nós. Ou não.

Para mais informações (técnicas), leia abaixo:

Apagões de 1999 e 2001 foram prenúncio de racionamento; para especialistas, não há crise de energia

11/11 - 13:48 - Rodrigo de Almeida, iG Rio

RIO DE JANEIRO - Dez anos separam o apagão da noite de terça-feira do traumático racionamento de energia, durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Mas, apesar de racionamento e apagão serem completamente diferentes segundo os especialistas, o fantasma do racionamento voltou a ser lembrado.

O economista Roberto Brandão, pesquisador sênior do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, lembra que, em 1999 e 2001, quando ocorreram grandes apagões, o sistema elétrico era frágil, e o volume de água nos reservatórios das usinas hidrelétricas mostrava-se bem abaixo dos seus níveis históricos. “Havia uma conjuntura ruim, que combinava vários anos de investimentos insuficientes e poucas chuvas”, diz Brandão.

O cenário é inverso este ano: os reservatórios de água das hidrelétricas estão em níveis muito mais altos do que há dez anos, e os investimentos em transmissão de energia elétrica são considerados satisfatórios. “Por um lado, nunca se investiu tanto", afirma Brandão. "Por outro, a crise econômica provocou redução dos níveis de consumo.” Segundo ele, o Brasil tem hoje energia suficiente para a carga existente. “Ontem [na noite de terça] o problema foi de falha técnica, não de ausência de energia, como no apagão que levou ao racionamento em 2001”, diz.

O apagão atormentou a vida da população de 18 estados, segundo informou nesta quarta-feira o Ministério das Minas e Energia. A causa: a queda de três linhas de transmissão que levam energia de Itaipu para os outros centros. Em 11 de março de 1999, 18 estados ficaram no escuro. O motivo alegado e questionado foi a queda de um raio numa subestação de energia em Bauru (SP). Em 2001, um desligamento em uma linha de transmissão entre as usinas de Ilha Solteira (SP) e a cidade de Araraquara (SP) foi a causa da falta de energia em 11 estados.

Perdas

É o fantasma do racionamento de energia de 2001 que explica a comparação. Os dois apagões enfrentados por FHC revelaram as deficiências da oferta de energia de que o país dispunha. A saída encontrada pelo governo foi o programa de racionamento, que duraria todo o ano de 2001 até março de 2002. Montou-se um gabinete dedicado ao gerenciamento da crise _a Câmara de Gestão de Crise de Energia elétrica, apelidada pela oposição de “ministério do apagão”. A Câmara era chefiada pelo então chefe da Casa Civil, Pedro Parente.

A partir de então, exigiu-se dos brasileiros uma economia de 20% nas contas de luz. Boa parte dos brasileiros _e dos investidores_ guarda na memória a conta do apagão daquele ano. Segundo relatório o Tribunal de Contas da União (TCU), a partir de uma contabilização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o custo total superou a marca dos R$ 45 bilhões, em valores atualizados pelo IGP-M. Desse total, cerca de R$ 27 bilhões foram cobrados nas contas de energia residenciais e comerciais. O Tesouro Nacional cobriu o restante. A taxa de crescimento da economia despencou de 4,3% em 2000 para 1,3% no ano seguinte. A oferta de empregos chegou a cair 41%.

Em fevereiro de 2002, o então presidente Fernando Henrique Cardoso disse, em pronunciamento de rádio e TV, que o povo brasileiro tinha sido o grande responsável pelo sucesso do plano para economizar energia. “Você apagou a luz e iluminou o Brasil”, afirmou FHC, cuja popularidade sofreu abalos. Chegou a cair sete pontos percentuais nos primeiros três meses de racionamento.

Segundo o TCU, a crise energética quase voltou a ocorrer em 2007, apesar das medidas destinadas a aumentar a oferta de energia. Na ocasião, os reservatórios hídricos do país desceram abaixo da margem de segurança definida. As usinas termoelétricas foram acionadas, mas, diante da insuficiência de fornecimento de gás, não foi possível usar toda a capacidade de reserva, aumentando o já elevado risco de déficit elétrico. Porém, as chuvas voltaram a tempo e em intensidade suficiente para recuperar os reservatórios.

Leia mais sobre: apagão

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