2 de out. de 2009

Mulheres saem às ruas em defesa do direito a seus corpos

Entidades feministas organizam ato em São Paulo para reivindicar legalização do aborto

A forte chuva que caía em São Paulo não intimidou as mulheres e homens presentes na Praça da Sé no último dia 28 de setembro. Faixas e bandeiras erguidas, refrões cantados em coro e eventos artísticos marcaram o ato pela legalização do aborto, organizado por diversas entidades feministas.

Em 2005, foram feitos 1.054.243 abortos no Brasil. Entre 2002 e 2005, 697 mulheres morreram em decorrência de complicações deste procedimento. A maioria delas eram negras e pobres. Entre 1995 e 2005, estima-se que a cada três bebês nascidos, tenha sido feito um aborto.

Com base nestes dados, extraídos da última pesquisa feita pelo SUS (Sistema Único de Saúde), a Frente pelo Fim da Criminalização das Mulheres e pela Legalização do Aborto organizou manifestações em todo o país. Em São Paulo, a Frente se reuniu na Praça da Sé com a reivindicação: “nenhuma mulher deve ser impedida de ser mãe. E nenhuma mulher deve ser obrigada a ser mãe”.

A data não foi escolhida por acaso, ela marca o Dia Latino Americano e Caribenho de Luta pela Legalização do Aborto, criado em 1990, após o 5º Encontro Feminista Latino americano e Caribenho, realizado em San Bernardo, na Argentina.

“Não vamos nos calar”

O lugar também não foi escolhido aleatoriamente. Segundo Sônia Coelho, da Marcha Mundial de Mulheres, a Praça da Sé sempre foi um espaço de lutas, um local emblemático de São Paulo. Para Mariana Martins, da secretaria de mulheres do PSOL, há ainda o simbolismo de realizar o ato na frente da Catedral da Sé “É como se estivéssemos dizendo a uma instituição que nos reprime há séculos que não vamos nos calar”.

O ato se concentrou na escadaria da Catedral da Sé, onde os manifestantes permaneceram por algumas horas agitados pelos tambores feitos de latas de lixo e galões de água vazios. Para finalizar, a manifestação saiu em marcha pelas ruas do centro, dialogando com a população.

Segundo os organizadores, a luta contra a criminalização do aborto ainda precisa de maior apoio. Sônia destaca que, no Brasil, a disputa pela legalização do aborto é hoje emblemática, pois os setores que se afirmam “pró-vida” estão cada vez mais articulados. Um exemplo é o indiciamento criminal de mais de mil mulheres em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, baseado nos prontuários apreendidos após o fechamento de uma clínica que realizava abortos.

CPI do aborto

Em 2010, o Brasil sediará o Encontro Mundial de Legisladores e Governantes pela Vida, que terá como principal pauta a luta contra o aborto. Contra esta prática, ainda pesa a recente criação da CPI do aborto, alvo de muitas críticas dos movimentos feministas e que, por enquanto, não está funcionando.

Para as entidades que participaram do ato, a luta pelo livre aborto significa a possibilidade das mulheres de decidirem sobre seus próprios corpos e terem em suas mãos a possibilidade de escolha em relação a seu futuro, questão delicada em uma sociedade historicamente machista.

Para Sônia, há uma grande hipocrisia em relação ao assunto, pois o aborto é feito, legalizado ou não. Nenhum método anticoncepcional é 100% eficaz, e a proibição afeta principalmente as mulheres negras pobres, que não têm dinheiro para pagar uma boa clínica. “Esse tema está na voz de quem tem muito poder”, afirma.

Procedimentos precarizados

Como exemplo, a Sônia cita a Cidade do México, que legalizou o aborto em 2007. Lá, o número de bebês abandonados nas ruas caiu radicalmente, além de ter diminuído o número de mulheres hospitalizadas em decorrência de complicações durante um aborto.

De acordo com os participantes do ato, a luta pelo livre aborto não é somente uma bandeira feminista, mas uma questão social. Da maneira que o problema está colocado no Brasil, prejudica apenas as mulheres de classes mais baixas, que são submetidas a procedimentos precarizados devido justamente à proibição.

Contra o argumento de que o aborto é um atentado à vida do feto, Mariana Martins afirma que a criminalização é muitas vezes prejudicial à saúde das mulheres e à condição de vida de muitas crianças.

O ato reuniu não só mulheres. Havia muitos homens presentes. “Esse é um ponto positivo”, avalia Mara Omijá, integrante do grupo feminista Pão e Rosas. Para ela, é fundamental que todos a favor da causa saiam às ruas para que o tema seja tratado publicamente. As organizadoras fazem um balanço positivo do ato, visto que a legalização do aborto é um assunto polêmico e deve ser discutido seriamente pela sociedade.


Fonte: Site Caros Amigos, Por Bárbara Mengardo e Tato Nagoya

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