Muitos dos incêndios ocorreram em favelas localizadas em lugares de interesse imobiliário (Foto:Marcelo Camargo/Agência Brasil/Arquivo) |
Projeto colaborativo, "hackatão" deve elaborar plano de pesquisa sobre quase 600 incidentes que ocorreram na capital paulista
São Paulo – O grupo Fogo no Barraco, constituído por
jornalistas e programadores, realizará no próximo domingo (23) um
"hackatão" para investigar a série de quase 600 incêndios que atingiram
favelas da capital paulista, nos últimos quatro anos. Hacker Day é um
encontro de pessoas interessadas em pesquisar dados públicos na internet
e divulgá-los para a população, por meios de veículos de comunicação. O
projeto colaborativo surge em um momento em que os moradores da favela
do Moinho, que tiveram suas casas queimadas no início da semana,
enfrentam forças policiais por não poderem reconstruir suas casas.
“O encontro é uma iniciativa da sociedade civil de
querer saber os reais motivos desses incêndios e os motivos de eles não
serem investigados apropriadamente”, diz a jornalista Patrícia Cornils,
uma das idealizadoras do evento. A ideia surgiu quando ela procurava,
nas redes sociais, parceiros para lhe ajudar na apuração sobre os
incidentes. “Queria saber o que aconteceu em cada favela, para onde
levaram os moradores, e o que aconteceu com o espaço que ela ocupava”,
conta. Os parceiros foram aumentando, o programador Pedro Moraes criou o
hotsite Fogo no Barraco,
uma página de mapeamento colaborativo dos incêndios, e os envolvidos
decidiram realizar o evento, para expandir a investigação.
O Hacker Day ocorrerá na Santa Cecília, na zona oeste
de São Paulo, e qualquer um pode participar. “Jornalistas,
programadores, pesquisadores e curiosos são convidados a colaborar”,
disse Patrícia. A pauta de apuração será realizada no dia, após um
cruzamento de dados entre as pessoas que já realizam pesquisas sobre os
incidentes. “Já fizemos muita apuração. Precisamos decidir os próximos
passos. Vamos ver onde o processo vai levar a gente”, comentou ela.
Muitos dos incêndios ocorreram em favelas localizadas
em lugares de interesse imobiliário ou que deverão sediar projetos de
infraestrutura da cidade, como é o caso da favela do Moinho, cujo espaço
poderá receber uma estação da CPTM ou um parque. Líderes comunitários e
ativistas políticos afirmam que os incêndios são causados para atender
esses projetos. A Defesa Civil já afirmou que muitos deles têm origem
criminosa, mas descarta que tenham sido causados por interessados nesses
empreendimentos.
Os incidentes são alvo da Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) dos Incêndios na Câmara Municipal de São Paulo. Contudo,
esta vem sendo tratada com negligência pelos vereadores –aliados do
prefeito Gilbero Kassab (PSD) – que a compõem. A comissão foi instaurada
em abril, mas até agora não houve investigação efetiva. Após uma série
de quatro incêndios em duas semanas, finalmente foram escolhidos
vice-presidente e relator e realizadas as primeiras reuniões.
Por Estevan Muniz, Rede Brasil Atual - 21.09.12
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