Um forte aparato policial foi utilizado no despejo - Foto: Reprodução |
As
350 famílias sem-teto despejadas da Ocupação Eliana Silva, no Barreiro,
em Belo Horizonte (MG), ocuparam na manhã desta segunda-feira (14) a
entrada da prefeitura da capital mineira, na Avenida Afonso Pena.
Os
sem-teto afirmam que vão permanecer em frente à prefeitura por tempo
indeterminado. O clima é de tensão. Houve confronto entre seguranças da
prefeitura e os sem-teto despejados e a tropa de choque da Polícia
Militar já chegou ao local. No domingo (13), durante um show em uma
praça de Barreiro, o rapper Emicida foi preso por protestar contra o
despejo da ocupação Eliana Silva.
Leia matéria sobre o despejo ocorrido na sexta-feira (11):
Tropa de choque para despejar famílias de ocupação urbana
Despejo é considerado ilegal e truculento; ocupação Eliana Silva, em Belo Horizonte, reunia 350 famílias
Joana Tavares - De Belo Horizonte - 14.05.12
Um aparato composto por mais de 400 policiais,
oficiais da Guarda Municipal e do Grupo de Ações Táticas Especiais da
Polícia Militar (Gate), cachorros, cavalaria, helicóptero, e até o
“caveirão” - blindado utilizado em operações de alto risco - foi
utilizado para cumprir a ordem de despejo da ocupação Eliana Silva, no
Barreiro, em Belo Horizonte, na última sexta-feira, dia 11.
Ocupação Eliana Silva, em Belo Horizonte, reunia
350 famílias - Foto: Reprodução
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“Estão
descumprindo uma lei estadual”, denuncia Padre João, deputado federal
pelo PT, presente, assim como outros representantes da rede de
solidariedade à ocupação, no dia do despejo violento. A lei 13.604,
sancionada pelo então governador Itamar Franco no ano 2000, determina a
criação de comissão especial para “acompanhar os processos de
desocupação de áreas invadidas para assentamento rural ou urbano no
Estado”. Os apoiadores estavam presentes de forma espontânea, mas não
houve uma reunião de mediação ou qualquer tipo de preparação às famílias
que estavam no terreno.
“Isso
sem falar dessa grande contradição, da incompetência do governo
municipal, com a falta de entendimento do governo do estado, para
resolver a questão das moradias populares”, complementa Padre João,
citando o programa federal Minha Casa, Minha Vida, que prevê a
construção de casas para pessoas de baixa renda. Em Belo Horizonte,
nenhuma casa para famílias que ganham de 0 a 3 salários mínimos, caso da
maioria dos ocupantes, foi construída até hoje.
Presente
em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, para a entrega de
1.160 casas voltadas para essa faixa de renda pelo programa Minha Casa,
Minha Vida, a presidenta Dilma Rousseff recebeu uma carta dos ocupantes
da Eliana Silva no dia da ação de despejo.
“Aqui é
truculência e incompetência. Truculência da Polícia Militar, a mando do
governo do estado, e incompetência da prefeitura e do governo que não
conseguem ter uma política habitacional para o povo de Minas Gerais.
Preferem usar a truculência pra mostrar que têm poder, ao invés de
resolver os problemas do povo. É o estilo do governo que temos: um
governo elitista e antipopular”, complementa Rogério Correia, deputado
estadual pelo PT, também presente na ação.
A
PM cercou o terreno que estava sendo desocupado, montando um corredor
com oficiais armados, cachorros e impedindo a entrada de novas pessoas.
Depois de destruir os barracos de madeira e lona, passou duas
retroescavadeiras sobre o terreno, com o auxílio de trabalhadores da
Superintendência de Limpeza Urbana (SLU). As pessoas se reuniam como
podiam, sentadas em pilhas de colchões, e com os pertences pessoais
amarrados em sacolas. De pé, só ficou uma tenda onde estava montada a
cozinha comunitária, que serviu almoço para todos no final da tarde.
Duas retroescavadeiras passaram sobre
o terreno - Foto: Reprodução
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As
famílias prometiam continuar no local, e contavam com o apoio da rede
de solidariedade e de vizinhos, que estavam do outro lado do terreno,
impedidos de visitá-los. Ali está outra ocupação urbana, a Camilo
Torres, que resiste há quatro anos.
Violência
Dirlene
Marques, professora da Universidade Federal de Minas Gerais e
coordenadora do Comitê Mineiro do Fórum Social Mundial, era uma das
pessoas que estava do outro lado e queria dar um apoio mais próximo. Ao
tentar passar por baixo – já que a entrada era cercada – foi impedida
por policiais. Dois homens a jogaram no chão, colocaram o joelho em seu
pescoço, machucaram seu braço e quebraram seus óculos. “Foi uma reação
muito violenta. E olha que já enfrentei a polícia da ditadura, mas nunca
com tanta violência”, denuncia.
Para ela, a ação
da polícia no despejo foi uma resposta para que mais nenhuma ocupação
se consolide. “Já estavam ameaçando isso há muito tempo, porque as
ocupações estão se espalhando por toda Minas Gerais, pelo Brasil. Então
estavam minando essa ocupação até para dar exemplo para que não ocorram
outras. Nosso medo é que usem isso pra tirar as outras ocupações”,
pontua.
Frei Eustáquio, da paróquia Cristo
Redentor, na região do Barreiro, conta que houve outra ocupação ali
perto há 17 anos, a Vila Corumbiara. “Como outras áreas públicas aqui na
região do Barreiro, essa área estava abandonada, sem o cuidado dos
responsáveis e aí os movimentos entram.
Nossa
presença, além de alimentar a resistência, é evitar o conflito, porque a
vida tem que ser preservada. Esperamos que não ocorra o mesmo aqui que
houve no Pinheirinho. Estamos aqui para tentar garantir as vidas e a
moradia, que é direito constitucional do povo brasileiro”, atesta.
Outro
apoiador que estava chocado com a ostentação de força da PM era Bruno
Cardoso, do Conselho Estadual de Direitos Humanos. Ele chegou cedo à
desocupação e presenciou o momento tenso em que a polícia começou a
entrar, com sérios riscos de machucar gravemente as pessoas, inclusive
crianças de colo. “É muito triste ver o Estado usar toda essa força para
fazer um não direito, uma não justiça, enquanto deveria usar de força
pra construir, pra garantir direitos”, coloca.
As pessoas se reuniam como podiam, sentadas
em pilhas de colchões - Foto: Reprodução
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O
número de 400 policiais colocado no início deste texto é uma
estimativa. Isso porque a PM não quis informar qual era efetivo em
trabalho naquele dia. “O efetivo que está aqui é o necessário, o
suficiente para o resultado seja o esperado por todos”, informa o
tenente-coronel Vladimir Correia, responsável pela equipe de negociação.
Com
voz calma e firme, explicou que não chegou a ele nenhum fato que
comprove abusos dos oficiais. “Que a polícia utilizou a força, utilizou.
A força das palavras, da presença, a força do visual dos equipamentos,
dos armamentos e do uniforme. Utilizamos essa força para chegar nesse
nível aqui, praticamente o terreno tem a posse garantida”, afirmou,
mirando o terreno já sem casas e os funcionários da limpeza trabalhando a
todo vapor.
Ele coloca que a prefeitura havia
designado cinco centros de referência para pessoas que habitam locais de
risco para alojar os ocupantes. “Todos os atores estão aqui para
resolver uma questão social. Nós estamos aqui para resolver uma questão
social”, explica.
Fonte: Brasil de Fato
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