Revista que desapareceu das bancas em Goiás |
Por Gabriel Bonis - Carta Capital - 01.04.12
“A fotocópia da matéria custa cinco reais, quer que eu reserve? Não
tenho mais como tirar outra, porque a tinta da máquina acabou”, oferece,
por telefone, a vendedora de uma revistaria de Goiânia. CartaCapital ligava
para saber se o estabelecimento ainda tinha em estoque a edição 691,
que traz em sua capa reportagem sobre os laços dos negócios ilegais do
bicheiro Carlinhos Cachoeira, o senador Demóstenes Torres e o governador
de Goiás, Marconi Perillo, identificados pela Polícia Federal na
Operação Monte Carlo.
A revista, que teve acesso exclusivo ao relatório da operação da PF,
recebe desde a manhã deste domingo 1 inúmeras mensagens em seu portal e
contas nas redes sociais Twitter e Facebook a alertar sobre a estranha dificuldade em encontrar a edição nas bancas da capital goiana.
A reportagem de capa, assinada pelo jornalista Leandro Fortes, aborda
documentos, gravações e perícias da Operação Monte Carlo que indicam
uma sinergia total entre o esquema do bicheiro, Demóstenes e o
governador de Goiás, Marconi Perillo.
Uma gravação telefônica de 5 de janeiro de 2011 entre Cachoeira e seu
principal auxiliar, Lenine Araújo de Souza, vulgo Baixinho, captada por
agentes federais, mostra a interferência do bicheiro no governo de
Perillo.
De Miami, o empresário recebe a notícia de que um de seus indicados
para o governo de Goiás, identificado apenas por Caolho, foi preterido
sem maiores explicações, aparentemente sem o conhecimento do governador.
“Marconi, hora que souber disso (sic) vai ficar puto”, reclama o
bicheiro, no telefonema a Souza. E acrescenta, a seguir: “Já mandei
avisar ele (sic)”.
A reportagem também informa que Demóstenes recebeu ordem de Souza
para falar diretamente com o governador – que nega envolvimento no caso –
sobre o assunto.
Esta, no entanto, não foi a única interferência do bicheiro no
governo de Perillo, segundo a PF. Há registro de conversas em que
Cachoeira se mostra incomodado com a atuação de um coronel em Anápolis,
que poderia atrapalhar os seus negócios.
Na semana passada, CartaCapital revelou que o senador
Demóstenes Torres (DEM-GO) tinha direito a 30% da arrecadação geral do
esquema de jogo clandestino comandado pelo bicheiro – e que movimentou,
em seis anos, 170 milhões de reais (Leia mais AQUI).
Pelo Twitter, diversos usuários relataram que a edição da
revista teria sido comprada em grandes lotes por indivíduos em carros
sem placas, supostamente ligados ao bicheiro e a pessoas próximas dos
envolvidos nas denúncias ao governador de Goiás, para evitar que a
população tivesse conhecimento do caso.
Segundo relatos nas redes sociais, a edição teria sido comprada, em grande parte, logo após a abertura das bancas.
A reportagem de CartaCapital entrou em contato neste
domingo, por telefone, com cerca de 30 bancas de jornal, livrarias e
revistarias da capital goiana, entre as milhares que existem na cidade.
Apenas seis atenderam à ligação e confirmaram que a revista estava
esgotada. Informaram também não ter vendido grande número de revistas a
poucos indivíduos ou a alguém com um carro a “recolher” a publicação das
bancas.
Devido a dificuldade em averiguar pessoalmente o caso neste domingo,
não é possível confirmar se o mesmo ocorreu em outras bancas ou partes
da cidade, ou se os próprios contatados foram instruídos a negar a venda
em lotes.
Mas os relatos deste tipo de venda são inúmeros, entre eles o do deputado federal Luiz E. Greenhalgh, via Twitter. “São muitas as pessoas que testemunharam o sequestro da CartaCapital em Goiânia. Amigos me telefonaram. Fato inadmissível nos dias de hoje”, disse. (Veja imagem de alguns tweets abaixo).
Em comentários no site da revista, os internautas afirmam não haver
mais revistas em diversas partes da cidade e questionam o sorrateiro
desaparecimento das edições. “Antes das bancas de revista abrirem, a
revista CartaCapital já estava sendo recolhida pelos jagunços do chefe da quadrilha”, relata o leitor que identifica como Sílvio.
Outro internauta, Flávio Câmara especula sobre a possibilidade de a
revista estar esgotada pela ação ‘’de políticos” a agir
“estrategicamente” e encobrir “o caso envolvendo Carlinhos Cachoeira e
os políticos goianos”.
A leitora Sônia relata ter tentado comprar a revista pela manhã e não
a encontrou. “Em uma delas, o rapaz disse que um homem passou e comprou
todos os exemplares. Se isso não é manipulação política, qual será o
nome disso?”, questiona.
A reportagem de CartaCapital continua a averiguar a situação, a fim de confirmar ou não as denúncias dos internautas.
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