12 de fev. de 2011

Egito livre?

 
A sucessão de fatos que desembocou na renúncia de Mubaraki pode ser considerada uma vitoria do povo egípcio.
Mas, afinal, Mubaraki caiu ou renunciou?
Porque a imprensa não decide o enforque sobre estes fatos, a nomenclatura do ato final?
Se caiu foi o povo e sua revolta, intermitente ao longo de 18 dias, desafiando o aparato repressivo do Estado, quem forçou, no sentido mais incisivo da palavra, a queda do ditador, aliado dos americanos, preposto dos israelenses.
Se Mubaraki renunciou, o povo também contribuiu para sua renúncia, mas este ato deixa claro que Mubaraki saiu pela incapaz sustentabilidade de se manter um governo com seu nome a frente, mas preservando todos os demais personagens que o próprio Mubaraki nomeou.  Aí pode-se considerar um 'empate técnico" de israelenses e norte americanos.

De qualquer forma a queda de Mubaraki, por renúncia ou deposição popular, revela a fragilidade dos governos autoritários do oriente médio, sustentados unicamente  na ação repressiva de governos que não respeitam os anseios populares e impõe suas vontades pela força, ignorando os mais básicos direitos humanos e sem serem importunados pela ONU, EUA e a grande imprensa mundial, inclusive pela filial brasileira desta corporação, que ao longo de 30 anos dedicou pouco ou quase nada de suas edições para condenar o regime egípcio.

A saída de cena de Mubaraki encerra mais um ato triste e arrastado, por 30 anos, de uma ditadura não incomodada por aliados que, sem legitimidade moral e ética, bradam mundo afora pela "defesa da liberdade e democracia", mas que afagam ditaduras fantoches em benefícios próprios.

A vitória do povo egípcio é a vitória da democracia, da liberdade e da soberania dos povos, que contamine toda a região e incomode regimes fechados como os da Arábia Saudita e Jordânia.

Livre mesmo?
Mas a pergunta final que se faz indispensável ao momento: estará o Egito livre? Se quem assume o poder com a queda (ou renúncia) de Mubaraki é o ex-chefe de sua guarda presidencial, O marechal Mohamed Hussein Tantawi, de 79 anos, que comandará o processo de transição no Egito.

Durante a crise das últimas semanas, Tantawi tem sido um dos principais contatos do governo egípcio com os Estados Unidos. Ele já foi visto pelos norte-americanos como um homem resistente às reformas política e econômica. 

Apesar da aparente perda do chefe das "sesmarias egípcias" os EUA mudam o longevo comandante para continuar o controle com a liderança do processo de escolha do futuro governo.

O resultado final ainda pode ser um duro golpe nos interesses de Washington, mas o povo também teve sua parcela de conquista, derrubou o chefe de estado e poderá impor suas escolhas nas eleições de setembro, aprofundando ainda mais o fosso que separa as aspirações populares do povo egípcio, dos interesses genuinamente estrangeiros.

Por enquanto o sabor das mudanças, mesmo que moderadamente, toma conta do mundo livre e democrata.

Com informações da
Agência Brasil
 
Por Claudio Ribeiro - Palavras Diversas - 11.02.2011

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