Livro mostra que, se Dilma vencer as eleições, Estado será fortalecido
Rodrigo Almeida, iG Rio de Janeiro - Último Segundo - 19.02.2010
O Estado será mais forte num eventual governo de Dilma Rousseff. Os detalhes do que será a economia brasileira caso a ministra vença as eleições deste ano estão no livro “Brasil, entre o passado e o futuro” (Boitempo Editorial), lançado durante o 4º Congresso Nacional do PT, que neste sábado vai selar sua candidatura à Presidência da República.
Organizado pelo cientista político Emir Sader e por Marco Aurélio Garcia, assessor especial do presidente Lula, o livro traz a entrevista da ministra e artigos que radiografam o atual governo, criticam os antecessores e miram no que poderá ser um futuro governo – do PT e de Dilma.
“O Estado terá, inexoravelmente, de reforçar seu segmento executor”, diz a ministra. O objetivo, segundo ela, é universalizar serviços de saneamento, melhorar a segurança pública, ampliar a oferta de habitação e garantir mais unidades de atendimento na saúde a partir de 2011.
Do livro, a atual chefe da Casa Civil sai como uma candidata defensora da presença mais forte do Estado, do fortalecimento de empresas públicas e de “um bem-estar social à moda brasileira”. Alguém com um olho no retrovisor – com estocadas nos oito anos de governo Fernando Henrique e nos “25 anos de estagnação da economia” – e outro no futuro de continuidade em relação aos dois mandatos do presidente Lula.
Pregadora de subsídios para os mais pobres, da universalização de serviços públicos e do que considera o “novo passo” para o País: consolidar a meritocracia entre os profissionais do Estado, avançar na área de transportes e investir em tecnologia e inovação.
Preparação para o Congresso do PT
A entrevista é uma espécie de declarações de intenções da ministra e antecipa muitos dos pontos que integrarão o discurso que fará neste sábado. “São análises que abordam diferentes temas vinculados à herança recebida pelo governo Lula, às transformações realizadas por este e às propostas para sua consolidação, aprofundamento e desdobramentos futuros”, explicam Garcia e Sader no texto de apresentação do livro.
As contribuições, eles esclarecem, “convergem no projeto de ‘um País para todos’, expresso pela ministra Dilma Rousseff” – referência a um trecho da entrevista na qual ela fala da necessidade de “seguir construindo um Brasil para 190 milhões”.
A ligação dos dois com a ministra se explica: Marco Aurélio Garcia é vice-presidente do PT e coordenador do futuro programa de governo da candidata. Um dos intelectuais próximos à ministra, Emir Sader integra o grupo de Garcia.
Além de Garcia e Sader, participou da entrevista Jorge Mattoso – o ex-presidente da Caixa Econômica Federal que foi afastado após a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa.
Na conversa, Dilma analisa o que considera méritos de Lula e deméritos de Fernando Henrique Cardoso. “Nós recompusemos parte da capacidade do Estado de planejar e gerir”, defende. “Felizmente, nem tudo que havia de bom no Estado brasileiro foi desmontado”, completa, afirmando que foram preservados o Itamaraty, as Forças Armadas, a Receita Federal e o Banco Central.
Ressalta que os bancos estatais enfrentaram dificuldades, “por pouco” Furnas não foi privatizada, e a Petrobras “enfrentou problemas” – mas, segundo ela, “a sociedade reagiu duramente, e esses processos foram interrompidos e arquivados”.
A ministra defende a concessão de incentivos à atividade econômica nos últimos anos e o papel do Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES, “que impediram que a economia viesse a naufragar na crise e o setor privado sucumbisse”. Sempre olhando também para o passado, ataca: “Muitos diziam que só havia um jeito de as pessoas melhorarem a sua situação, era através do mercado. E que, se acreditássemos nisso, todos seríamos salvos”.
Para Dilma, o Estado tem de ser forte para ter capacidade de estimular o setor privado, abrir caminhos para a criação de novos pólos econômicos, planejar e intensificar obras de infraestrutura.
Comparação
A entrevista reforça a estratégia petista de transformar a disputa presidencial numa comparação entre os feitos de Lula e Fernando Henrique. Ao lembrar, por exemplo, que cerca de 22 milhões de brasileiros saíram da miséria e falar do surgimento de uma nova classe média, Dilma evita enquadrar esses avanços numa escala de tempo, ou reconhecer méritos de políticas iniciadas na gestão tucana.
A ministra acusa os tucanos de banir palavras como desenvolvimento e política industrial do dicionário de ações do governo. Sobre a continuidade na gestão da política econômica, ela afirma que houve uma decisão política. “Percebemos que a estabilidade é um valor funcional, no sentido de nos garantir margem de manobra”, diz. “A estabilidade para nós não é um valor em si”.
Dilma, no entanto, analisa o peso da “herança” recebida por Lula e elogia o papel de Antonio Palocci – cuja gestão à frente do Ministério da Fazenda, entre 2003 e 2005, é vista com reservas do grupo mais à esquerda do PT.
“A primeira fase da política econômica do governo, de responsabilidade do ex-ministro Antonio Palocci, foi um momento decisivo (...) porque nos deu um novo grau de liberdade”, afirma a ministra. Ela conta que, no fim de 2005, “a situação estava muito difícil. Havia praticamente zero de margem de manobra, uma ofensiva violenta contra o governo e entrando numa conjuntura eleitoral. Era o pior dos mundos”.
Segundo a pré-candidata do PT, a política de 2003, 2004 e 2005 só gerou frutos no início de 2006 e “mostrou plenamente os resultados” em 2007, ano de criação do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) – coordenado pela ministra, o programa acabou se tornando uma de suas principais vitrines.
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