15 de jul. de 2009

Por dentro da tal Agenda 21 - Mãos à obra: a hora é agora - Ação Educativa Lança a 2ª edição do Prêmio Minha Comunidade Sustentável

Entrevista com a ambientalista Nina Orlow . Artigo de Thaís Helena Prado, especialista em gestão ambiental, e José GAlizia Tundisi, mestre em Oceonografia, doutor em Ciências Biológicas e presidente da Associação Instituto Inernacional de Ecologia e Gerenciamento Ambiental (IIEGA) . Reportagens dos ganhadores do Prêmio de 2008

De Carta na Escola - Jul.09
por Ricardo Prado

A ambientalista Nina Orlow explica como essa ferramenta de planejamento e ação participativa pode integrar a escola à criação de sociedades sustentáveis

Todo bom projeto de desenvolvimento sustentável inclui planejar e traçar metas que melhorem a vida das pessoas, gerem renda e criem ações de conscientização em relação ao meio ambiente. Se integrado a uma política pública, tudo conspira a favor para que um projeto, a princípio local, evolua e transforme uma cidade, um país. A Agenda 21 é um instrumento disseminador de planos de ação pelo desenvolvimento sustentável em todo o mundo. Criada durante a Conferência Rio-92, está organizada em 40 capítulos, que abordam desde o combate à pobreza até o desenvolvimento local integrado e sustentável, passando por questões de gênero e proteção à infância. Nesta entrevista, a ambientalista e arquiteta Nina Orlow, participante da Rede de Agendas 21 Locais e do Grupo de Trabalho Meio Ambiente do Movimento Nossa São Paulo, explica quais são as etapas de implementação da Agenda 21 na escola, conta como são algumas das boas experiências realizadas no Brasil e defende que as escolas usem essa ferramenta a seu favor.

Carta na Escola: Como a escola pode introduzir e praticar ações e conceitos da Agenda 21?

Nina Orlow: Para construir a Agenda 21 Local, o Ministério do Meio Ambiente publicou um passo a passo (confira em www.mma.gov.br) que propõe um roteiro de seis etapas: mobilizar para sensibilizar governo e sociedade, criar um Fórum de Agenda 21 Local, elaborar um diagnóstico participativo, implementar, monitorar e avaliar um plano local de desenvolvimento sustentável. Para as escolas há o Com-vida, um incentivo para a prática de agenda 21 Escolar. O segredo é não inventar ações que dificultem a vida da escola. Ter uma data de lançamento do programa é bom. É um momento de se fazer algo para marcar, como convidar autoridades locais, pais e comunidade. A escola deve dar o passo que ela conseguir dar.

CE: O diretor é figura imprescindível para a criação de uma Agenda 21 Escolar?

NO: Isso pode partir do diretor, dos professores ou de um grupo de alunos que queira montar um conselho e mobilizar outras classes. Em cada passo, a diversidade deve aflorar. Mas é claro que o diretor que optar por esse caminho está muito certo porque vai facilitar outras coisas para ele, como a melhora da qualidade de vida da escola e do entorno. Por exemplo, no Jabaquara (bairro da zona sul de São Paulo), o CEU Caminho do Mar está trazendo ações socioambientais para os alunos, porque a diretora participa da Agenda 21 do bairro, que projeta um mapeamento para recuperar as fontes de água da região. Muitas pessoas de idade que conheceram a região antes da ocupação sabem onde estão as fontes e participam.

CE: A Agenda 21 é um processo que não tem fim?

NO: Ela tem metas e indicadores de avaliação, e isso não é tão simples. Há metas de curto, médio e longo prazo. Consertar uma torneira, por exemplo, é de curtíssimo prazo. Para médio e longo prazo, é preciso pensar nos tipos de resultados e em como avaliar se o objetivo foi alcançado.

CE: Como é feita essa avaliação?

NO: É o próprio grupo que coloca isso em prática. Inclusive, o grupo é mutante, porque os alunos vão saindo da escola, e um bom conselheiro tem de formar novos motivadores. Se uma escola vai iniciar uma Agenda 21 e há uma unidade de saúde próxima, um dos indicadores de avaliação que a escola pode buscar é descobrir qual a maior queixa naquela região. É um diagnóstico e pode ser um indicador, depois de um ano, por exemplo.

CE: Índices de violência são indicadores?

NO: Sem dúvida. A questão da violência, muitas vezes, passa pela forte pressão do consumo. Tudo isso poderia ser aplacado se tivéssemos um espaço onde cada um pudesse usar o seu potencial. Tem jovem que na música ou no esporte está conectado com a questão socioambiental. Tudo é bem-vindo em uma escola. A Agenda 21 permite isso.

CE: Que bons projetos de Agenda 21 Escolar a senhora tem visto?

NO: A Agenda 21 Escolar ainda não deslanchou na cidade de São Paulo como a gente gostaria. A cidade de Suzano (interior de São Paulo) tem um plano excelente de Agenda 21 Escolar, que se reflete, inclusive, no currículo. Eles planejam os assuntos ligados ao meio ambiente que serão discutidos em cada ano. Ensinam até biorremediação (utilização de plantas na recuperação de áreas degradadas) para as crianças pequenas. É maravilhoso. Tem uma lógica no avanço da aquisição do conhecimento, o aluno está sempre utilizando o que aprendeu para dar um salto e a prefeitura colocou isso como uma política pública.

CE: O apoio das prefeituras é determinante?

NO: Não é centralizador, mas é essencial. Sem o governo local, coisas que parecem simples, como a arborização, podem ser feitas de forma equivocada. Já aconteceu de plantarem árvores a uma distância de 10 centímetros uma da outra. Às vezes, é preciso alguém da prefeitura para orientar que planta é mais adequada para aquele local. Nós plantamos árvores, mas elas ficam para a cidade. A Agenda 21 é uma política pública que, se for da própria prefeitura, se generaliza.

CE: Os municípios vêm aderindo à Agenda 21?

NO: Ainda estamos engatinhando, todos aprendendo a fazer a Agenda 21. Depois da ditadura, ficamos muito tempo amordaçados e ainda estamos saindo dessa falta de possibilidades participativas na cidade.

CE: Projetos de plantio de hortas vêm se disseminando nas escolas. Essa é uma ação que pode se integrar à Agenda 21?

NO: Não adianta falar da horta sem pensar no consumo responsável e na alimentação saudável. Horta pela horta, sendo que tudo o que foi plantado morreu ou sobrou, não vale a pena. Faz parte ensinar a fazer uma compostagem, que será utilizada na horta. Se uma escola tem uma ação integrada com outras secretarias ou coordenadorias, ela vai trabalhar de uma forma integrada. Não adianta tratar da saúde se não tratar da água e do saneamento. A Sabesp , por exemplo, tem um programa de incentivo à economia de água, o Pura (Programa de Uso Racional da Água), que é uma parceria importante com as escolas. Os alunos podem visitar as instalações e saber como a água chega à sua casa.

CE: Que projetos uma escola pode desenvolver, pensando no tripé social, ambiental e econômico?

NO: A coleta seletiva, apesar de presente, ainda está muito aquém do resultado que gostaríamos. É preciso pensar que o mundo não se restringe à nossa produção de resíduos. Às vezes, começar pelo consumo consciente é mais importante. As escolas responsáveis integram essas duas questões. É uma ação que faz parte do tripé da sustentabilidade. Acontece que a coleta seletiva precisa de um desdobramento. Não adianta separar lixo e a cidade não ter uma central de triagem. Se você vender o material coletado na escola para um ferro-velho, vai ser muito mal remunerado, porque não se paga um preço bom por volumes pequenos. Já uma central de triagem, com catadores, vai receber duas vezes mais o valor que a escola receberia. Vamos deixar os materiais para os catadores e fazer disso um grande movimento para melhorar a cidade toda. Algumas escolas fazem dessa forma, mas a maioria fica restrita a uma questão muito linear. A Agenda 21 nos convida a pensar de forma integrada.

Continue lendo (Uma escola para a água)

Nenhum comentário: