28 de jun. de 2009

40 negros mortos pela ditadura são homenageados

Foto- Agência Brasil
Por Azenha - Do Vi o mundo - 27.06

Começou na quinta-feira, 25, e termina amanhã, 28, em Brasília, a 2ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial. Neste sábado, os 40 afrodescentes que morreram na luta contra o regime militar receberam homenagem durante a conferência

por Kelly Oliveira, da Agência Brasil

Brasília - Descendentes de escravos que morreram na luta contra o regime militar (1964-1986) foram homenageados hoje (27) na 2ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, aberta no último dia 25, em Brasília.

Os secretários-adjuntos das secretarias especiais dos Direitos Humanos (SEDH), Rogério Sottili, e de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), Eloy Ferreira, apresentaram um totem, de 1,80m de altura por 0,80m de largura, com imagens de 40 negros - 35 homens e 5 mulheres – mortos e desaparecidos durante a ditadura.

A ideia da SEDH é fazer com que o totem seja levado para vários lugares, assim como a exposição “Direito à Memória e à Verdade”, cujos painéis contam a história da resistência ao regime militar no Brasil e já rodaram mais de 50 cidades brasileiras e do exterior.

Sottili ressaltou que uma das maiores violações dos direitos humanos é feita pela segregação, pelo preconceito e pela discriminação. “Igualdade racial é uma luta de preservação, de promoção dos direitos humanos. Todo o Estado deve estar comprometido de varrer do nosso país toda, qualquer tipo de discriminação, seja racial, de gênero, de diversidade religiosa”, disse.

Para Ferreira, a historiografia não teve “o cuidado ou a preocupação de registrar a luta dos negros ao longo da história do Brasil". Segundo o secretário, levar o conhecimento da luta dos negros contribui para o “fortalecimento da identidade nacional”. “A juventude vai saber, a nação vai conhecer que temos heróis negros, brancos, que todos formamos o Brasil.”

Segundo Ferreira, ainda é preciso trabalhar mais sobre esse tema nas escolas do país. “É um processo superar o racismo institucional.”

Segundo ele, durante o regime militar, as escolas ensinavam que Zumbi dos Palmares foi um negro insurreto. “Essa inversão de valores é hoje repudiada pela historiografia, pela força do movimento negro e pela força dos governos que, após a ditadura militar, trabalharam na construção de valores nacionais.”

A 2ª Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial termina amanhã (28). São 1,3 mil delegados eleitos em todo o país para discutir temas como a titulação de terras quilombolas, as cotas no ensino superior, religiões de matrizes africanas, políticas para as populações indígenas e ciganas e o combate ao racismo institucional.

Para a secretária de Promoção da Igualdade Racial da Bahia, Luíza Bairros, a conferência abre caminho para que movimentos sociais se organizem e governos locais passem a dar atenção à questão da igualdade racial.

OSWALDÃO E SANTO DIAS, PRESENTE!

A lista de 40 homenageados, com um breve histórico de cada um deles, está disponível na internet.

Um deles é Osvaldo Orlando da Costa – Osvaldão, como era conhecido. Foi o primeiro enviado do PCdoB ao Araguaia, ainda nos anos 60. Com 1,98m de altura, forte e alegre, era muito respeitado pelos moradores da região e por seus companheiros, tendo fama de corajoso. Os militares, ao contrário, temiam sua figura mítica.

José Rufino Pinheiro, guia da região, testemunhou ter visto a sua execução, ocorrida em abril de 1974. Segundo ele, Osvaldão, muito magro e com fome, encontrava-se de costas, sentado num tronco caído e comendo macaxeira, quando foi alvejado com um único tiro de uma cartucheira.

Seu corpo foi pendurado por cordas em um helicóptero, que o levou até o acampamento militar de Bacaba e de lá para Xambioá. Posteriormente, sua cabeça foi exposta em público. O cadáver foi violado por chutes, pedradas e pauladas desferidas pelos soldados, sendo finalmente queimado e jogado na vala conhecida como “Vietnã”, onde eram lançados os mortos e moribundos.

Santo Dias da Silva é outro. Foi morto pela Polícia Militar no dia 30/10/1979 quando liderava um piquete de greve, em frente à fábrica Silvânia, no bairro paulista de Santo Amaro.

Um dos seus companheiros, Luís Carlos Ferreira, integrante da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, publicou no boletim do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, o seguinte relato: “Eu vi o Santo ser atingido na barriga, de lado, e o tiro sair de outro lado. Escutei gritos. E o Santo caiu no chão. (...)”

O corpo de Santo foi velado durante toda a noite na Igreja da Consolação, no centro da cidade. Na manhã seguinte, 10 mil pessoas, com faixas e palavras de ordem, acompanharam o cortejo daquela igreja até à Catedral da Sé, gritando palavras-de-ordem. Foi uma das maiores manifestações populares do período. De lá, a passeata conduziu o caixão até a Catedral da Sé, onde o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns concelebrou, com vários outros bispos, uma missa de corpo presente, antes do enterro seguir para o cemitério do Campo Grande, na zona sul de São Paulo.

O atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva - que em maio daquele ano tinha liderado uma histórica greve dos trabalhadores metalúrgicos do ABC paulista --participou do enterro e atuou como liderança nas manifestações e discursos.

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